Assim que os Príncipes Cristãos chegaram a Jerusalém, para a I Santa Cruzada, tiveram de assumir a direção de todos os aspectos da Cidade, inclusive do Hospital de São Lázaro, que manteve-se em sua função de sanatório extra murus Urbi, agora não mais sob os auspícios dos monges armenos, e sim abaixo dos Cavaleiros-médicos da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém.
Na Cidade Santa, Capital e Corte do Reino Latino de Jerusalém, em 1162, o Conde de Jaffa e Ascalon, Amalrico de Bulhões torna-se Rei, sob o nome de Amalrico I. Esposo de Inês de Courtenay, Condessa de Edessa, filho da Rainha Melisende de Jerusalém, e Irmão mais novo do Rei Balduino III.
Em 1174 Amalrico I morre, deixando o Trono dos Lugares Sagrados para seu filho Balduino IV. Essa transição poderia ser apenas mais uma na história, não fosse Balduino IV portador de lepra.
Apesar do nascimento de Balduíno IV não ser mencionado em qualquer documento ou história contemporânea, as crônicas permitem estimar o ano do seu nascimento em 1161. Aquando do seu nascimento, o seu pai, então conde de Jaffa e Ascalon, pediu ao irmão, o rei Balduíno III de Jerusalém, para ser o padrinho do seu filho. Uma vez que este aceitou, a criança foi batizada com o prenome de Balduíno.
O Rei Balduíno III morreu no ano seguinte, sendo sucedido por Amalrico. Para subir ao trono, este foi forçado pela nobreza cruzada a anular o seu casamento com Inês de Courtenay, julgada de personalidade demasiado volátil e propensa a intrigas para se tornar rainha da Cidade Santa.
Inês manteve o título de condessa de Jaffa e Ascalon (posteriormente seria também senhora de Sídon) e continuou a receber uma pensão pelo rendimento desse feudo; e a Igreja declarou Balduíno IV e Sibila, sua irmã, filhos legítimos do rei, preservando o seu lugar na ordem de sucessão. Amalrico I voltaria a casar-se em 1167 com Maria Comnena, de quem nasceria Isabel I de Jerusalém.
Enquanto Sibila foi enviada para ser educada com a sua tia-avó Ioveta, abadessa do convento de Betânia, Amalrico manteve o seu filho na corte de Jerusalém, tendo pouco contato com a mãe. Aos nove anos de idade, a educação do herdeiro foi confiada ao historiador Guilherme de Tiro. Na sua Historia não poupou elogios ao falar da educação do seu jovem pupilo e, apesar do viés natural do autor, este rei ficaria na história com uma imagem de inteligência e cultura.
Foi também Guilherme quem descobriu que o jovem sofria de lepra, apesar de o diagnóstico só ter sido confirmado quando atingiu a puberdade: ao observar o seu pupilo a brincar com jovens da sua idade, e na brincadeira as crianças aplicavam uns aos outros beliscões nos braços, o cronista reparou que Balduíno não parecia sentir dor, ao contrário das restantes crianças.
Esta condição foi imediatamente reconhecida como indício de uma doença grave, que seria identificada conclusivamente como lepra com a chegada puberdade, quando os sintomas se agravaram. Amalrico procurou a ajuda de vários médicos, inclusivamente muçulmanos, e recorreu a imersões no rio Jordão, uma cura realizada pelo profeta Eliseu de acordo com o Segundo Livro dos Reis da Bíblia, mas nenhum método seria eficaz.
Amalrico I morreu a 11 de Julho de 1174, depois de tentar impedir o domínio dos zengidas sobre o califado do Egipto, mas sem sucesso. Mas este domínio não seria completo porque, com a morte em 1171 do conquistador Shirkuh, o território passou para o controle do seu sobrinho Saladino, que adoptou uma política dúbia, não totalmente submissa a Nur ad-Din. Os estados cruzados tinham agora de enfrentar a sul o poder emergente dos aiúbidas, em vez do poder decadente dos fatímidas.
Balduíno IV foi imediatamente coroado, pelo patriarca latino de Jerusalém Amalrico de Nesle a 15 de Julho, com a idade de treze anos. Uma vez que a maioridade estava definida para o quinze anos, o reino foi colocado sob regência, inicialmente exercida informalmente pelo senescal Miles de Plancy, guerreiro de renome mas que se revelaria um falho político.
Duas semanas depois da coroação, a 28 de Julho, o rei Guilherme II da Sicília desembarcou em Alexandria e pôs cerco à cidade, mas seria derrotado por Saladino a 31 de Julho. Se Miles de Plancy tivesse lançado um ataque simultâneo, é provável que Saladino, ainda em situação precária no poder do Egito, tivesse ficado em uma posição muito desfavorável.
Por ser leproso, não se esperava que Balduíno reinasse por muito tempo ou produzisse um herdeiro, pelo que os nobres do reino posicionaram-se de modo a influenciar os herdeiros de Balduíno: a sua irmã Sibila, na companhia da tia-avó Ioveta no convento de Betânia; e a sua meia-irmã Isabel, na corte da sua mãe Maria Comnena em Nablus (atual Cisjordânia) e na companhia da poderosa família Ibelin.
Entretanto Raimundo III de Trípoli chegou a Jerusalém, exigindo a sua nomeação como bailio e regente, uma vez que era o parente varão mais próximo (primo direito) de Amalrico. Foi apoiado pela maioria da nobreza do reino, incluindo Onofre II de Toron, Balião de Ibelin e Reginaldo de Sídon.
Balduíno IV, já Rei, teve sua saúde entregue aos Cavaleiros-médicos da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém. Segundo a tradição então vigente, era regra que todos os leprosos, quando Cavaleiros, fossem transferidos para a Ordem de São Lázaro, dessa forma, Balduíno IV é tido como o primeira Rei a integrar a Ordem de São Lázaro de Jerusalém.
Foi Balduíno IV quem deu a Ordem de São Lázaro uma cruz pátea verde, como emblema. Tal cruz foi depois substituída pela Cruz de Malta, que hoje usamos, mas mantendo o tom verde.
A proximidade do Rei Balduíno IV com a Ordem de São Lázaro foi sempre tão grande, que em batalha, sempre se fez acompanhar pelos Cavaleiros Lazaristas.
Balduíno IV em batalha, acompanhado pelos Cavaleiros de São Lázaro
Baulduíno IV de Jerusalém morreu a 16 de Março de 1185, com 24 anos de idade, pouco depois da sua mãe - Saladino ficaria de luto em sinal de respeito. Os seus esforços para assegurar a sucessão do reino seriam frustrados com a morte de Balduíno V (filho de sua irmã Sibila) no ano seguinte. Guy de Lusignan e Sibila ascenderiam então ao trono.
Armas da Casa Real dos Boni de Lusignan,
Príncipes da Galiléia.
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