Aos Fiéis Leitores deste Cavalheiresco Blog, envio a mensagem mandada por Sua Excelência o Sr. Dom Carlos Gereda de Bourbon, Marquês de Almanzán, 49º Príncipe e Grão Mestre da Ordem Militar e Hospitalária de São Lázaro de Jerusalém. Esta mensagem fora veiculada junto a Revista Atavis et Armis, número 25, de outubro deste ano.
Tradução: CONDE ANDRE GALLI DELLA LOGGIA
Grão Mestre
Pelo motivo de recente falecimento do Arquiduque Otto de Habsburgo, protetor de nossa querida Ordem na Áustria, pode ser lido, que com ele havia morrido o último cavaleiro da Europa. Muito provavelmente o escritor queria mostrar com esta expressão, que o Príncipe simbolizava as virtudes de um antigo cavaleiro medieval, em uma Europa que será irreconhecível em uns poucos anos, como consequência das crises econômicas e de valores que padecemos. O Estado de Bem-Estar que conhecemos está ruindo diante de nossos olhos, sem que a sociedade articule uma resposta.
Devemos convir que um Cavaleiro segue sendo hoje, a pesar de tudo, quem com extrema generosidade se entrega aos demais em prol de um ideal, quem é fiel a palavra dada, quem em suma, persegue o Santo Graal da sua perfeição humana pela perspectiva da Fé. Neste sentido, Otto de Habsburgo foi um perfeito cavaleiro de outro tempo e também do nosso. Um homem com profundas convicções religiosas, entregue a seu sentido de honra. Em outros tempos, o conceito de honra constituía a pedra fundamental do Código Cavalheiresco. Hoje parece uma palavra vazia, e não o é. A "Palavra de Honra" era o compromisso mais solene do cavaleiro e deve seguir o sendo. O verdadeiro cavaleiro cristão deve promover o bem e combater o mal. Um cavaleiro é aquele que para garantir completamente sua liberdade opta livremente por submeter-se àquelas autoridades que o guiam até onde ele quer chegar.
Por isso penso que o reencontro do homem moderno com sua própria história e por elas chegar a modelos nobres e generosos, que estiveram na origem do ideal da Cavalaria, essa é uma tarefa formidável que somente pode ser realizada junto ao seio de uma Ordem de Cavalaria.
Na atualidade as Ordens de Cavalaria não são nem podem ser sociedades políticas nem organizações de caridade, nem clubes de indolentes nostálgicos, nem associações de ridículos vaidosos, porém são associações religiosas hierarquizadas, formadas majoritariamente por leigos, com finalidades benéficas de assistência sócio-hospitalária. É certo que no mundo moderno, a tarefa das Ordens Militares não pode limitar-se a uma ação caritativa, pois é mister recuperar para a sociedade princípios que esta necessita de modo imperioso, medinate o trabalho intelectual e de formação.
Analisando os diversos focos de tenção internacional, se tem a impressão de que se trata do mesmo fogo subterrâneo que vai alimentando convulsões por todas as partes e que, por tanto, por trás de todas essas desordens existe uma única desordem, que é a causadora de todas essas convulsões. A própria vida privada se encontra em uma situação caótica, incluindo crises nas famílias e na sociedade em geral. Pensa-se que nunca, como agora, o mal esteja representado como um bem social, uma conquista do progresso. A recuperação dos valores que são consubstanciais a civilização ocidental e européia tornou-se uma tarefa de todos.
Voltar a conceitos tão importantes para a reta instrução de nossos jovens, como a disciplina, o sacrifício, ou a obediência, não é tarefa fácil ou simples. Tais princípios constituem parte essencial de nossa própria tradição e do espírito de cavalaria que deve impregnar o labor cotidiano. Não de esconde que a defesa da tradição se associa ao obscurantismo da direita, o que é uma falácia muito propagada em nosso tempo. Sem raízes, nada somos. A tradição é um modo de ser, de atuar, de avançar, de servir.
Uma Ordem Militar como a nossa, surgida na Terra Santa, que sobreviveu a tantos vai-e-vens da história, a tantas adversidades, a tantas armadilhas, é chamada a cumprir grandes objetivos e a servir a sociedade de hoje, tão separada de Deus, e a recuperação dos valores atemporais que contribuem para o seu estabelecimento. Em nome do progresso do homem, se está construindo uma sociedade sem Deus, atenta somente a satisfação dos desejos, que mantém contraditoriamente o homem na escravidão.
Quando aceitei as responsabilidades inerentes a dignidade de Grão Mestre, prometi por minha Honra, jurei por Jesus Cristo Nosso Senhor, exercê-Las com plenitude, com paternal dedicação, e em consonância com meus predecessores, escutando a uns e outros, sem submeter-me nunca a ditadura dos interesses espúrios. A manutenção da Unidade da Ordem, que é um valor supremo, requer um comando único, firmemente comprometido com as tradições da Cavalaria, e disposto a todo momento, a governar com devoção ao serviço dos supremos ideais do Lazarismo.
Com a ajuda de Deus, sem a qual nada podemos, e em concurso com as orações das Damas e Cavaleiros da Nossa Ordem, lograremos a conquista desta outra Terra Santa, que é a volta a Raízes Cristãs da Europa, às origens da Civilização Ocidental, que vem formando a história do mundo.
Atavis et Armis
Marquês de Almanzán
Carlos Gereda de Bourbon