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sábado, 28 de janeiro de 2012

A Verdadeira Conversão Cristã

Dom Farès Maakaorun, Arcebispo da Igreja Católica
Apostólica Greco-Melquita do Brasil (Igreja em Comunhão com a Santa Sé)
Cavaleiro da Soberana Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém, Acre e Boigny.



Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo por essa oportunidade de transmitir a Sua Verdade, em Seu Nome.
Rogo a Virgem Maria que acompanhe minhas palavras a fim de não cometer nenhuma injustiça. Imploro Sua Proteção.

Amados meus, estou feliz por essa disposição em me ouvir, desejo de coração poder saciá-los de Bem e Verdade.
Hoje, não vou falar do conteúdo de meu último livro, “A Ruina do Anticristo na Igreja e na Família”, porque ele é um livro  para alcançar a Deus, por uma experiência individual de amor de cada um de nós. Não foi um livro pensado para os centros acadêmicos, ou para discussões teológicas, mas um livro para cada cristão, que todos os dias precisam escolher pelo Bem, pela Verdade.
Por isso, vamos começar, refletindo onde devemos olhar para descobrir a Deus, e reforço descobrir a Deus, com essa descoberta tornar nossas escolhas diárias verdadeiramente cristãs.
Ninguém encontra Deus! Deus é que vem buscar cada um de nós, daí nossa necessidade em descobrir a Deus quando estamos diante desse encontro. Deus não está dentro, nem fora de você, assim como uma pessoa não está dentro, nem fora de você. Então, como posso perceber a Deus? Você vai perceber a Deus pela AÇÃO que Deus faz em sua vida.

Quando dizem no mundo: “meu encontro com Deus”, “meu encontro com Nossa Senhora” a coisa não é bem assim. Perceba que você não pode sair de algum lugar para se encontrar cara a cara com Deus, você não se encontra cara a cara com Deus, porque você está Dentro De Deus.
Todos nós estamos dentro De Deus, porque Ele é a Realidade Máxima, o Supramente Real.
Logo, ninguém pode sair de dentro do Supramente Real para se encontrar com Deus. Segundo o Apóstolo, São Paulo: Nele vivemos nos movemos e somos!
Mas então, como posso perceber, ou seja, descobrir, a existência de Deus?

Podemos perceber a existência de Deus, somente quando podemos perceber a Ação de Deus nas nossas vidas.
Às vezes, essa Ação de Deus em nossas vidas é tão clara que só um idiota não perceberia. Agora, se você nunca se dispôs a olhar para a Ação de Deus na sua Vida fica impossível de descobrir a Deus, e passará o resto de sua vida correndo atrás de infinitas dúvidas.
Para entender essas minhas palavras, não é preciso ser teólogo, basta saber ler o Evangelho, notem bem: Em Mateus 11(1-6) perguntaram a Jesus se Ele era aquele mesmo messias que estavam esperando, ou deveriam esperar outro? E Jesus responde: Vocês estão vendo, vendo  os paralíticos andarem, os cegos enxergarem, e assim por diante. Certo?

Então, como você pode descobrir a Deus? Como cada um de nós pode descobrir a Deus, sem nenhum mistério?
PELOS FATOS
Então, amados meus, qual foi o critério que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou para sabermos como descobrir a Deus?
PELOS FATOS
Agora, se o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, nos explicou, onde está Deus, aonde devemos olhar para descobrir Deus, porque deveríamos fazer de outra maneira?
Então, o que nos impede de perceber verdadeiramente a Deus, na nossa vida? O que nos torna distante da intimidade com o Sagrado?
Comecemos por pensar  no significado de uma Conversão Cristã! (Quem é convertido aqui dentre de nós)
Notem que interessante:
No Islã a conversão de um homem se dá por uma declaração pública a comunidade islâmica. Este homem declara publicamente que ele acredita em um só Deus e seu profeta é Maomé, a partir desse momento este homem se compromete a obedecer aos cinco pilares do islã e se torna um muçulmano, membro da comunidade, mesmo que estas palavras declaradas por este homem sejam da boca par fora, ele se torne muçulmano. A conversão ao islã é uma conversão formal e cívica perante a comunidade.
Enquanto, no Cristianismo o processo de conversão é um processo interno, informal, pessoal e misterioso que acontece entre o homem e Deus.  Um homem pode se converter em absoluto segredo havendo uma conversão que se dá em sua alma, perante Deus. A conversão cristã não é um ingresso a uma comunidade formal e cívica. Nem mesmo o sacramento do Batismo é um ingresso a uma comunidade cívica e sim  a uma comunidade espiritual.


Portanto, a conversão cristã de um homem é um mistério entre Deus e este homem, o que vale desse homem perante Deus, e não perante uma comunidade.
A partir desse momento, o homem convertido ao cristianismo perante Deus, muda de vida Então, converter-se para este homem, significa mudar de direção no caminho da vida: não com um pequeno ajustamento, mas com uma verdadeira inversão de sua marcha.
Com a conversão, a pessoa tem, como objetivo, a medida alta da vida cristã, confiar no Evangelho vivente e pessoal, que é Jesus Cristo. A Pessoa de Jesus Cristo é a meta final e o sentido profundo da sua conversão, Ele é o caminho pelo qual todos são buscados a caminhar na vida, deixando-se iluminar pela Sua Luz e amparar pela Sua Força que move os nossos passos. Deste modo a conversão manifesta o Seu Rosto mais maravilhoso e fascinante:  Não é uma simples decisão moral que retifica o nosso modo de vida, mas é um mistério de fé, que nos envolve totalmente na comunhão íntima com a Pessoa viva  e concreta de Jesus.
 Converter-se e confiar no Evangelho não são duas coisas diversas ou de qualquer modo apenas próximas entre si, mas expressam a mesma realidade.

A conversão autêntica de um homem perante Deus é o seu "sim" total de quem entrega a própria existência ao Evangelho, respondendo livremente a Cristo que foi o primeiro a oferecer-se ao homem como caminho, verdade e vida, como o único que liberta e salva. É precisamente este é o sentido das primeiras palavras com as quais, segundo o Evangelista Marcos, Jesus abre a pregação do "Evangelho de Deus": "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto. Arrependei-vos e confiai na Boa Nova" (Mc 1, 15).
O "arrependei-vos e confiai na Boa Nova" não está só no início da vida cristã, mas acompanha todos os seus passos, permanece renovando-se e difunde-se, ramificando-se em todas as suas expressões.
Todos os dias é momento favorável e momento de graça, porque todos os dias somos solicitados a descobrir  a Jesus, a ter confiança n'Ele, a permanecer n'Ele, a partilhar o Seu Estilo de Vida, a aprender d'Ele o Amor Verdadeiro, a segui-Lo no cumprimento quotidiano da Vontade do Pai, a única grande lei de vida.
Todos os dias, também quando não faltam as dificuldades e as fadigas, as canseiras e as quedas, quando somos tentados a abandonar o caminho do seguimento de Cristo e a fechar-nos em nós mesmos, no nosso egoísmo, sem nos darmos conta da necessidade que temos de nos abrir ao Amor de Deus em Cristo, para viver a mesma lógica de Justiça e de Amor. Por isso, é necessário humildade para aceitar que é preciso que Jesus Cristo nos liberte do "meu", para me dar gratuitamente o "Seu".
Graças à ação de Cristo, nós podemos entrar na justiça "maior", que é aquela do amor, a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.


Recorda-te que és pó e pó hás-te de tornar. Somos assim remetidos para o início da história humana, quando o Senhor disse a depois do pecado original: "Com o suor do teu rosto comerás o pão, enquanto não voltares à terra porque dela foste tirado: tu és pó e pó hás-te de tornar!" (Gn 3, 19).
Aqui, a palavra de Deus recorda-nos a nossa fragilidade, aliás,  a nossa morte, que é a sua forma extrema.
Perante o inato (fatal) medo do fim, e ainda mais no contexto de uma cultura que de muitos modos tende a censurar a realidade e a experiência humana do morrer, a vida cristã, por um lado, recorda-nos a morte convidando-nos ao realismo e à sabedoria, mas, por outro, estimula-nos, sobretudo, a aceitar e a viver a novidade inesperada de uma fé confiança, e não uma fé crença.
O homem é pó e pó há-se de tornar, mas é pó precioso aos olhos de Deus, porque Deus criou o homem destinando-o à imortalidade. Assim a fórmula litúrgica "Recorda-te que és pó e pó te hás-te de tornar" encontra a plenitude do seu significado em referência ao novo Adão, Cristo.

Também o Senhor Jesus quis partilhar, livremente, com cada homem, o destino da fragilidade, sobretudo através da Sua Morte na Cruz; mas felizmente esta morte, cheia do Seu Amor pelo Pai e pela humanidade, foi o caminho para a Ressurreição Gloriosa, através da qual Cristo se tornou Fonte de uma Graça doada a quantos confiam n'Ele e são tornados partícipes da própria Vida Divina.
Esta vida, que não terá fim, já está a decorrer na fase terrena da nossa existência, mas será levada a cumprimento depois "da ressurreição da carne". O Apóstolo Paulo indica-nos a atitude espiritual adequada para poder progredir no Caminho da Comunhão. "Não que eu já tenha alcançado a meta — escreve ele aos Filipenses — ou que já seja perfeito, mas prossigo a minha carreira para ver se, de algum modo, a poderei alcançar, visto que já fui alcançado por Jesus Cristo" (Ef 3, 12).

Sem dúvida, nós cristãos ainda não alcançamos a meta da plena unidade com Deus, mas se nos deixarmos converter de modo incessante pelo Senhor Jesus, certamente alcançá-la-emos. Afinal, o cristão, que tem uma fé de confiança, tem esperança no dom de uma verdadeira conversão.
De uma fé confiante nasce a autêntica Esperança:
Quando na Primeira Carta de Pedro se exorta aos cristãos a estarem sempre prontos a responder ao propósito do logos (o sentido e a razão) da sua esperança (3,15), « esperança » equivale a «fé de confiança».
Paulo lembra aos Efésios que, antes do seu encontro com Cristo, estavam « sem esperança e sem Deus no mundo » (Ef 2,12). Naturalmente, ele sabe que eles tinham acreditado em deuses, que tiveram uma religião, mas os seus deuses revelaram-se discutíveis e, dos seus mitos contraditórios, não emanava qualquer esperança. Afinal, só confiamos naquilo que conhecemos, que experimentamos, e percebemos. Apesar de terem deuses, estavam «sem Deus» e, consequentemente, achavam-se num mundo tenebroso, perante um futuro obscuro.
Ao mesmo tempo, diz aos Tessalonicenses: Não deveis «entristecer-vos como os outros que não têm esperança» (1 Ts 4,13).  Aparece aqui também como elemento distintivo dos cristãos o fato de estes terem um futuro: Não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem, em termos gerais, que a sua vida não acaba no vazio.

Sendo assim, podemos agora dizer: O cristianismo não era apenas uma «boa nova», ou seja, uma comunicação de conteúdos até então ignorados. Em linguagem atual, dir-se-ia: A mensagem cristã não era só « informativa », mas « reveladora ». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que deve gerar fatos e experiências, mudando a vida de quem experimenta.
Os Efésios, antes do encontro com Cristo, estavam sem esperança, porque estavam «sem Deus no mundo». Chegar a conhecer Deus, o Verdadeiro Deus: Isto significa receber esperança. A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a Ele nos habituamos a posse duma tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida.

O cristianismo não traz uma mensagem sócio-revolucionária. Jesus não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus, Ele mesmo morto na cruz , trouxe, é  algo de totalmente distinto: O encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus Vivo é, deste modo, o encontro com uma Esperança que é mais forte do que os sofrimentos, é por isso mesmo, transforma a partir de dentro a vida de um homem.


Uma curiosidade interessante é que a figura de Cristo interpretada, nos antigos sarcófagos, está através de duas imagens: A do filósofo e a do pastor. Em geral, por filosofia não se entendia uma disciplina acadêmica, tal como ela se apresenta hoje.
O filósofo era antes aquele que sabia ensinar a arte essencial: A arte de ser retamente homem, a arte de viver e de morrer.
Certamente, já há muito tempo que os homens se tinham apercebido de que boa parte dos que circulavam como filósofos, como mestres de vida, não passavam de charlatães que, com suas palavras, granjeavam dinheiro, enquanto sobre a verdadeira vida nada tinham a dizer. Isto era mais uma razão para se procurar o verdadeiro filósofo que soubesse realmente indicar o itinerário da vida.

Quase ao fim do século terceiro, encontramos, pela primeira vez, em Roma, no sarcófago de um menino e no contexto da ressurreição de Lázaro, a figura de Cristo, como o Verdadeiro Filósofo que, numa mão, segura o Evangelho e, na outra, o bastão do viandante, próprio do filósofo. Com este bastão, Ele vence a morte; o Evangelho traz a verdade que os filósofos peregrinos tinham buscado em vão.
Nesta imagem, que sucessivamente por um longo período havia de perdurar na arte dos sarcófagos, torna-se evidente aquilo que tanto as pessoas cultas como as simples encontravam em Cristo: Ele diz-nos quem é na realidade o homem e o que ele deve fazer para ser verdadeiramente homem. Ele indica-nos o caminho, e este caminho é a verdade. Ele mesmo é simultaneamente um e outra, sendo por isso também a vida de que todos nós andamos à procura.
Ele indica ainda o caminho para além da morte; só quem tem a possibilidade de fazer isto é um verdadeiro mestre de vida.
O mesmo se torna visível na imagem do pastor. Tal como sucedia com a representação do filósofo, assim também na figura do pastor, a Igreja primitiva podia apelar-se a modelos existentes da arte romana. Nesta, o pastor era, em geral, expressão do sonho de uma vida serena e simples de que as pessoas, na confusão da grande cidade, sentiam saudade.
Agora a imagem era lida no âmbito de um novo cenário que lhe conferia um conteúdo mais profundo: «O Senhor é Meu Pastor, nada me falta [...] Mesmo que eu atravesse vales sombrios, nenhum mal temerei, porque estais comigo» (Sal 23[22], 1.4).
O verdadeiro pastor é Aquele que conhece também o caminho que passa pelo vale da morte.      O verdadeiro pastor é Aquele que, mesmo na estrada da derradeira solidão, onde ninguém me pode acompanhar, caminha comigo servindo-me de guia ao atravessá-la: Ele mesmo percorreu esta estrada, desceu ao reino da morte, venceu-a e voltou para nos acompanhar a nós, agora, e nos dar a certeza de que, juntamente com Ele, acha-se uma passagem. A certeza de que existe Aquele que, mesmo na morte, me acompanha e com o seu «bastão e o seu cajado me conforta», de modo que «não devo temer nenhum mal» (Sal 23[22],4): esta é a  esperança que surgiu e deve surgir em nossas vidas.


Com a minha Benção Apostólica



Dom Farès Maakaroun
Arcebispo da Igreja Católica, Apostólica, Greco-Melquita
no Brasil


 São Paulo 25 de Janeiro de 2012

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