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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A História da Lepra no Brasil: 1ª Parte

O HOSPITAL DE LÁZAROS DA IMPERIAL CIDADE DE SÃO PAULO E A ASSEMBLÉIA PROVINCIAL

PARTE I


A professora alemã Ina von Binzer, contratada pela família do fazendeiro e advogado Bento de Aguiar Barros para a educação de seus filhos, narrou em uma de suas cartas, datada de 27 de outubro de 1882, um encontro que muito a marcou. Em seus passeios avistou escravos, isolados ou em grupos, trajando roupas sujas e esfarrapadas, com grossas ataduras recobrindo partes de seus corpos, com cabelo desgrenhado e barba emaranha e comprida, arrastando-se apoiados em bastões e mendigando. Confinados ou vivendo em colônias afastadas, viviam da caridade da população. Eram os hansenianos, então chamados de morféticos, lázaros ou leprosos:

                                   
"É horrivelmente triste e comovente pensar nesse agrupamento de párias, isolados do resto do mundo pela desgraça comum, irmanados pelo sofrimento e auxiliando-se mutuamente como samaritanos atingidos pela mesma maldição."
A hanseníase, conhecida desde a Antigüidade, propagou-se a partir do Oriente Médio, foco endêmico da doença e, até a década de 1940, como não havia cura (o que só foi possível com o advento das sulfonas), apenas procedia-se ao confinamento dos acometidos até que a doença os consumisse. Os abrigos para hansenianos surgiram por inspiração da Igreja Católica, para acolher os milhares de doentes acometidos pela moléstia, que, expulsos de suas comunidades, vagavam mendigando pelas estradas ou se estabeleciam em acampamentos à beira dos caminhos de peregrinação aos santuários mais famosos. A palavra lazareto, significando lugar onde se recolhiam hansenianos, tem sua origem no personagem bíblico Lázaro, um pobre coberto de úlceras. Todavia, associa-se a ela o nome de São Lázaro, o protetor dos hansenianos. No século IX, surgiram os primeiros lazaretos em Portugal. Já no século XII, estima-se que havia 19.000 lazaretos por toda a Cristandade.
                    

No continente americano não existia a hanseníase, tendo ela sido para cá trazida pelos europeus e africanos.
As primeiras menções à doença documentadas em São Paulo ocorreram apenas no século XVIII, embora seja lícito supor que houvesse casos antes desta data, mas, talvez pela baixa incidência, acredita-se que não se constituísse em um problema social de maior monta. No final desse século a doença tomou formas mais preocupantes, pois, segundo testemunhos, não havia rua ou praça onde não se encontrassem "leprosos miseráveis", nem curso de água ou fonte em que eles não se banhassem. Foi indicativa de tal estado de coisas a aprovação, pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de uma pequena verba mensal a ser destinada aos leprosos, para que se tratassem em casa em vez de mendigarem pelas ruas.

CONTINUA...


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