Estimados e fieis Leitores do Blog de Cavalaria, hoje escreveremos acerca de um importantíssimo grupo de Ordens de Cavalaria, grupo este que foi de grande importância para a sociedade pós-Medieval, principalmente entre o século XVI ao século XVIII: as Ordens de Cavalaria Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar. Recomendamos que este texto seja lido após o Nosso anterior texto, que tratou acerca das Ordens de Cavalaria Religiosas-Militares, e do texto sobre as Ordens Dinásticas.
As Ordens de Cavalaria Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, também chamadas de Ordens Militares quase Religiosas, foram Ordens de Cavalaria criadas na esteira das anteriores Ordens Religiosas-Militares, e, de fato, muitos autores chegaram a confundir umas com as outras. É importante fazermos um paralelo entre ambos os grupos, para que, possa-se assim haver melhor compreensão de suas similitudes, mas principalmente, de suas dissemelhanças.
Quanto ao período de criação e objetivos:
Ordens Religiosas-Militares foram todas criadas por Bulas Papais em um período histórico específico, geralmente caracterizado entre o século XI ao século XV, tendo sido criadas tais Ordens em um período em que as Santas Cruzadas e a Defesa da Fé Católica, frente aos infiéis, era o grande pano-de-fundo da política europeia. O objetivo central era além da proteção da Europa, a tomada de Terra Santa das mãos sarracenas.
Da mesma forma as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar foram criadas por Bulas Papais, todavia, em um período posterior ao das Ordens Religiosas-Militares, tendo sido criadas entre o século XV e o século XVIII. Houve então um período (entre o século XV e o século XVI) em que não haviam sido diferidas as Ordens de ambos os grupos, de modo que, para saber se uma Ordem era Religiosa-Militar, ou apenas de inspiração Religiosa-Militar o observador deveria avaliar quais as práticas e vivências de cada uma das Ordens. Da mesma forma que as Ordens Militares-Religiosas, as Ordens Militares quase Religiosas tinham em seu Estatuto a obrigação da defesa da Fé Católica, todavia, essa defesa geralmente se daria em solo Europeu, já no contexto da luta contra os turcos pela defesa de Europa.
Quanto ao Governo:
Aqui reside uma das principais diferenças entre os grupos uma vez que as Ordens Militares Religiosas surgiram como verdadeiras comunidades de Cavaleiros, governados por um Grão-Mestre que era Eleito pelo Capítulo-Geral da Ordem. Várias Ordens Religiosas-Militares, como a Ordem Militar de São Bento de Avis, a Ordem Militar de
Alcântara, a Ordem Militar de Calatrava, a Ordem Militar de Santiago, a Sacra e
Militar Ordem Costantiniana de São Jorge, a Sacra Ordem da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria, a Ordem Militar de Montesa, a Ordem Militar de Nosso Senhor
Jesus Cristo, tornaram-se depois Ordens Dinásticas, em que seu Governo tornou-se Hereditário em uma família principesca, todavia isso não apaga o fato de que foram criadas como Ordens Capitulares, em que o Governa cabia a um Grão-Mestre Eleito pelo Capítulo-Geral.
Bem diferente disso ocorreu com as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, uma vez que tais Ordens foram sempre criadas pelo interesse de algum Príncipe, e dessa forma, desde o momento de sua criação, estavam abaixo da tutela hereditária de alguma família principesca.
Quanto a Religiosidade:
A Religiosidade foi sempre um dos pontos principais da vida das Ordens de Cavalaria Religiosas-Militares, de modo que, até hoje, as Ordens desse grupo são conhecidas por suas práticas religiosas, bem como pelo fato do Clero ter um papel preponderante na vida de tais Ordens. De fato, tais Ordens foram constituídas por grupos de Cavaleiros, a princípio Leigos, mas que, partindo para as Cruzadas, adotavam uma forma de vida Monástica, e proferiam os Três Votos de Pobreza, Castidade e Obediência.
Para as Ordens Militares-Religiosas, a Religiosidade era a base da vida em comunidade, de modo que dela dependiam as atividades Militares, que eram tidas e vividas como uma verdadeira Vocação a ser realizada por toda a vida.
Diferente disso, as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar foram criadas no âmbito das Cortes Principescas, principalmente as Italianas, em que havia um grande apego pela forma de vida primitiva dos antigos Cavaleiros das Ordens Militares-Religiosas, todavia essa seguia uma visão romântica da antiga Cavalaria. O Clero tinha um papel muito pequeno na vida dessas Ordens, sendo considerado como parte do grupo serventuário da Ordem.
Na maior parte dessas Ordens, as obrigações religiosas não superavam a de determinadas orações diárias a serem feitas pelo Cavaleiro, ou ainda, de determinadas práticas de misericórdia a ser desenvolvida.
O Grão-Mestre da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo, com seu Hábito Magistral |
Quanto às vestes
As vestes são um ponto em comum entre ambos os grupos, e vale-se lembrar que, formalmente falando, as Ordens Militares-Religiosas e as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar compõe um único grupo de Ordens criadas abaixo da Proteção dos Papas e do Direito Canônico. Assim, todos os privilégios de vestes cabíveis às Ordens Militares-Religiosas são também compartilhados com as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar.
São assim as Ordens Militares-Religiosas e as Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar as únicas que podem portar vestes Cerimoniais próprias, e tais vestes podem ser utilizadas em qualquer Igreja Católica no mundo, sem a interposição de quem quer que seja.
Quanto ao modelo das vestes, esse variou muito, dependendo do espaço geográfico da constituição de cada uma das Ordens. As Ordens espanholas, por exemplo, sempre deram preferência a Mantos Capitulares muito grandes, que em uma visão geral, lembram as casulas góticas maiores, utilizadas por Sacerdotes após o Concílio Vaticano II.
Já as Ordens italianas preferem um tipo de Hábito de inspiração monástica, chamado de Cocolla, e que lembra as hábitos da Ordem Beneditina, com mangas lonjas e um grande volume.
Todavia, as Ordens alemães, francesas ou portuguesas, preferiram geralmente Mantos Capitulares aberto no peito, verdadeiras "capas" largas, e que permitem ser vista a roupa que o Cavaleiro deve por baixo do Manto.
Quanto às Cerimônias
Este é outro ponto semelhante entre ambos os grupos de Ordens, porém, enquanto a Investidura em uma Ordem Religiosa-Militar era imprescindível pelo seu caráter sagrado e religioso, as Investiduras nas Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, apesar de muitas vezes realizadas durante a Santa Missa, eram mais valorizadas do ponto de vista social do que religioso, propriamente dito.
Como visto acima, características exteriores, como vestes e cerimônias foram comuns em ambos os grupos de Ordens de Cavalaria, tanto Religiosas-Militares como Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, sendo que, as diferenças maiores podem ser percebidas quanto ao período de criação de cada Ordem, bem como do Governo que cada Ordem teve, ou ainda, do ponto de vista religioso e dos objetivos.
Não devemos esquecer, porém, que essas diferenciações entre Ordens Religiosas-Militares e Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar dá-se apenas do ponto de vista acadêmico, uma vez que do ponto de vista Canônico são todas partes de um mesmo grupo, que era aquele das Ordens criadas por Bulas Papais.
Listaremos agora, algumas das principais Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, seu ano de criação, bem como o Papa que a criou e a que Casa Principesca estavam ligadas:
Ordem Dinástica e Militar de São Maurício, criada em 1434 por Amadeo VIII di Savoia, Reconhecida pelo Papa Gregório XIII em 1571. Como depois foi reunida, em 1572 com a Ordem Militar de São Lázaro de Jerusalém, é hoje listada como Ordem Religiosa-Militar.
Insigne Sacra Militar Ordem de Santo Estefano Papa e Mártir, criada pelo papa Pio IV em 1º de fevereiro de 1562 com a Bula "His
quae", como Ordem Dinástica da Casa Grão-Ducal da Toscana. Como depois foi reunida com a
Ordem Militar de São Tiago d'Altopascio, é hoje listada como Ordem Religiosa-Militar.
Ordem
Dinástica e Militar da Milícia Cristã de Nossa Senhora da Imaculada Conceição
abaixo da Proteção de São Miguel Arcanjo e São Basílio e sob a Regra de São
Francisco, criada pelo Príncipe
Ferdinando Gonzaga, VI Duque de Mantova e Duque de Monferrato, sendo Confirmada
pelos Papas Gregório XV, em 1623, e Urbano VIII, em 1625.
Ordem Real de Nossa Senhora do Monte Carmelo, criada pelo Rei Henry IV da França em 1608, e no mesmo ano Confirmada pelo Papa Paulo V. Houve uma tentativa, por parte do Rei Luís XIV, em 1668, de unificá-la a Ordem Militar de São Lázaro de Jerusalém, já unificada a Ordem de São Maurício em 1572; tal iniciativa, porém, foi rechaçada pela Santa Sé.
Real e Militar Ordem de São Jorge pela Defesa da Imaculada Conceição, criada pelo Príncipe-Eleitor Maximiliano II da Baviera em 1726, foi reconhecida por Bula Pontifícia em 1728, a qual a comparava a Ordem Teutônica, lhe concedendo os privilégios das Ordens Dinásticas de Inspiração Religiosa-Militar.
Real e Militar Ordem de São Jorge pela Defesa da Imaculada Conceição, criada pelo Príncipe-Eleitor Maximiliano II da Baviera em 1726, foi reconhecida por Bula Pontifícia em 1728, a qual a comparava a Ordem Teutônica, lhe concedendo os privilégios das Ordens Dinásticas de Inspiração Religiosa-Militar.