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sábado, 1 de julho de 2017

Heráldica italiana: uma guerra entre dois chefes

Por Sua Alteza Sereníssima 
o Príncipe Don Andrea III Prinz von Trivulzio-Galli
18º Príncipe de Mesolcina e do Sacro Império Romano-Germânico, Conde-Duque d'Alvito, Marquês de Castel Goffredo, Conde de Melzo, etc.

Nenhum povo viveu a Guerra e a Heráldica com mais intensidade que o povo da Península Itálica, região onde as fortunas das grandes Famílias da Nobreza estavam transversalmente ligadas às venturas que os Condottieres Militares pudessem trazer às suas famílias. 

A maior e mais dura guerra europeia foi, sem dúvidas, a travada entre Guelfos e Gibelinos, luta fratricida que durou entre os século XII ao XIV, e que dividiu a Península Itálica entre ambos os partidos.

Stemma Angiò (Brasão de Anjou)
símbolo heráldico adotado pelos Guelfos


Em termos gerais os Guelfos eram aqueles que apoiavam a supremacia Papal na Itália, de modo que as cidades formassem Comunes (município), governadas por pequenos "senados cumunais". Já os Gibelinos eram os que apoiavam a supremacia Imperial na Itália e que as cidades formassem Senhorios, governadas por famílias principescas, como pequenas Monarquias.

A razão que fazia a Igreja apoiar que as cidades formassem Comunes era que dessa forma, seriam governadas por uma liga de cidadãos, que respeitariam um estatuto prévio, muito semelhante ao que ocorria nos Conventos Católicos. Já o Império, ao defender que as cidades formassem Senhorios, estavam garantido ao Sacro Imperador Romano-Germânico a obediência e a vassalagem desses mesmos Senhores. 

Stemma dell'Impero (Brasão Imperial)
símbolo heráldico que representava os Gibelinos


Como para os povos italianos, tudo poderia ser representado pela heráldica, ambos os lados combatentes adotaram como emblemas heráldicos os brasões utilizados na Batalha de Benevento, travada em 1266, em que Carlo I d'Anjou (d'Angiò) liderou as tropas Guelfas na luta contra as tropas Gibelinas, lideradas por Manfredo de Hohenstaufen, então Rei da Sicília e Príncipe da Suábia. 

 
            Brasão de Carlo I d'Anjou      Brasão de Manfredo de Hohenstaufen

Na luta não estava apenas em jogo a divisão entre a supremacia Papal ou a supremacia Imperial, mas também se lutou pela Coroa da Sicília, que era até então propriedade da Casa de Hohenstaufen, também chamada de Casa da Suábia, de onde provinha o Sacro Imperador Romano Frederico Barbarossa. A Batalha de Benevento teve por vencedor Carlos d'Anjou, que tornou-se assim Rei da Sicília.

Os Guelfos, para comemorar a vitória de seu líder sobre o líder dos Gibelinos, passaram a adotar um chefe heráldico chamado de "Capo d'Angiò" (Chefe de Anjou), de blau, um lambel de goles de quatro pendentes, acompanhado de três flores-de-lis de ouro. Tal chefe nada mais era do que a parte superior do próprio brasão de Carlo d'Angiò. 

Brasão da Família Alioti, com o Capo d'Angiò

Família Ardinghi (da Toscana)

Família Baldinucci (de Prato)



Os Gibelinos, como não poderia ser diferente, em contra-partida adotaram como Chefe Heráldico o chamado "Capo dell'Impero", que era composto por um campo de ouro (ou raramente, de prata), carregado d'uma águia estendida de sable (preto). De início a águia apresentava uma só cabeça, mas a partir do século XVI passou a ser também representada por duas cabeças, com ou sem coroa, sendo ela do campo ou de sable.

Família Galli (de Como), Condes e Duques de Alvito, que apesar de sua varonia capetiana, foram Gibelinos e ostentaram o Capo dell'Impero em seu brasão.

Família Appiani (de Turim) Condes de Pino

Família Annoni (de Milão) Condes de Gussola


Dizia-se que a Guerra entre Guelfos e Gibelinos era uma guerra que dividia as próprias famílias, já que, não era raro que primos, ou mesmo irmãos, colocassem-se em lados opostos na luta. Isso, é claro, tinha de ser registrado na Heráldica:

Família Accarisi, com o brasão representando seus familiares Gibelinos

Família Accarisi, com seu brasão representando seus familiares Guelfos


Após o fim da Dinastia da Suábia, a chefia do Partido Gibelino recaiu sobre os Visconti, Duques de Milão, que expulsaram os Della Torre, comprometidos com o partido Guelfa e tomaram assim o controle de Milão e de todo o Norte da Itália, espalhando os ideais Gibelinos.

Brasão dos Visconti, Duques de Milão, e depois dos Visconti-Sforza, Duques de Milão (com o Capo dell'Impero).

Brasão dos Della Torre, antigos Senhores de Milão (com o Capo d'Angiò).


Era comum que uma família Gibelina, apenas fizesse casamentos com outras famílias Gibelinas, política esta também seguida pelo lado Guelfo. Desta forma, surgiram brasões bastante carregados, mas sempre com os mesmos Chefes: 

Brasão pintado por Marco Foppoli, onde pode-se ver quatro versões do Capo dell'Impero (I águia bicéfala estendida de sable e coroada em campo d'ouro, II águia bicéfala estendida de sable e coroada d'ouro em campo de prata, III águia estendida de sable em campo d'ouro, IV águia bicéfala estendida de sable em campo d'ouro).

Ao final da luta entre Guelfos e Gibelinos não se pode precisar um lado definitivamente vencedor, pois, se os Guelfos venceram mais batalhas, foram os Gibelinos que conseguiram vencer no campo da política, influenciando no fim dos sistema comunal das Cidades e no domínio das Senhorias. Todavia os Guelfos conseguiram afastar o domínio dos Sacro Imperadores da Itália, todavia, os Gibelinos impediram que os Papas firmassem seu domínio na política peninsular... Desta forma, é pois impossível afirmar que lado mais ganhou, ou que lado mais perdeu...