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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Ordens Militares de Cavalaria / Military Orders of Chivalry



Fieis Leitores do Blog de Cavalaria, em um distante 15 de agosto de 2016, comecei a desenvolver um Curso sobre Ordens de Cavalaria. Passaram-se os anos, e como é típico deste site, outros assuntos foram mescando-se àquele, de modo a não entediar a uns, nem desiludir a outros... 

A Primeira postagem da série intitulou-se "Ordens de Cavalaria Religiosa-Militares e Ordens Honoríficas: qual a diferença?" texto este publicado em 15 de agosto de 2016, e cujo acesso pode ser dado clicando no link do nome...

O segundo texto do curso recebeu o título de "Ordens de Cavalaria Dinástica: O que são?", publicado em 08 de março de 2017, e cujo link encontra-se acima...

A terceira parte do curso, publicada em 26 de maio de 2017, chamou-se "Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar", e tem grande sintonia com a primeira postagem da série... 

Já a quarta parte, chamada "Ordens Dinásticas Femininas", publicada em 20 de setembro de 2017 tratou acerca das chamadas Damenorden, que são as Ordens instituídas apenas para Damas.

Hoje publicaremos a quinta parte do Curso sobre Ordens de Cavalaria, que irá tratar acerca das Ordens Militares, um grupo numeroso e muito importante de Ordens de Cavalaria, que não deve ser confundido nem com as Ordens Religiosas-Militares, e suas "irmãs" as Ordens de inspiração Religiosas-Militares, nem com as Ordens Honoríficas (que trataremos no futuro).

As Ordens Militares são Ordens de Cavalaria fundadas já partir do século XV, mas que encontrou seu grande apogeu no século XIX. Diferente das Ordens Militares-Religiosas (também chamadas de Ordens Equestres) que foram criadas no contexto das lutas das Santas Cruzadas, e após algum tempo de funcionamento, foram todas reconhecidas pela Santa Sé por Bulas Papais ou das Ordens Dinásticas de inspiração Religiosa-Militar, que eram criadas a partir de Bulas Papais já quando as Santas Cruzadas haviam deixado de existir há séculos, as Ordens Militares foram criadas por Senhores Feudais (geralmente dentro do Sacro Império Romano-Germânico), e nunca buscaram, ou mesmo aceitaram a aprovação pontifícia de suas atividades.

Com o passar dos anos as Ordens Militares passaram a desenvolver um grande papel no tangente a recompensa de militares e mesmo de pessoas voltadas para a vida civil. Diferente das Ordens meramente honoríficas, os Cavaleiros das Ordens Militares possuem vínculo de proximidade "perpétuo e inquebrantável" com seu Grão-Mestre, podendo a qualquer momento serem privados de seus títulos, em casos de irem contra os Estatutos das mesmas. 

Tais Ordens Militares são, logo abaixo das Ordens de Colar e das Ordens Militares-Religiosas, o mais prestigioso grupo de Ordens de Cavalaria. 

Poderia-se dizer que a primeira Ordem Militar a ser instituída foi a Ordem de São Maurício, criada pelo Príncipe Amedeo VIII di Savoia, Conde e depois Duque de Savoia, em 1434. Tal Ordem de Cavalaria, quer por suas características, quer por seu modo fundacional, iniciou uma nova fase de Ordens Cavalheirescas: de Cavaleiros mais preocupados com as atividades e práticas do próprio mundo cavalheiresco, do que com a vida religiosa de suas Ordens. Mais tarde, em 1571 a Ordem Religiosa-Militar de São Lázaro de Jerusalém teve seu Grão-Magistério passado para a Casa de Savoia, e em 1572 o Duque Emanuele Filiberto di Savoia uniu a Ordem de São Maurício, a Ordem de São Lázaro, criando assim a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, até hoje existente, e cujo Grão-Mestrado cabe ao Duque de Savoia.




A próxima Ordem Militar a ser criada foi a Ordem Militar de São Teodoro Mártir, criada em 1483 pelo Príncipe Teodoro I Trivulzio, Conde de Melzo, Marquês de Pizzighetone, etc. Tal Ordem, seguindo o exemplo da Ordem de São Maurício, não buscou receber a aprovação Pontifícia de suas atividades, e diferente do que ocorreu com a Ordem Muriciana, jamais foi unida a uma Ordem Religiosa-Militar, de modo que podemos afirmar que a Ordem de São Teodoro Mártir é hoje a Ordem Militar mais antiga existente. 

A Ordem foi criada inicialmente apenas com dois graus: Cavaleiro e Comendador, sendo que depois recebeu o posto de Grande Oficial e Grã-Cruz.

Atualmente são os postos da Ordem (do maior para o menor)
- Cavaleiro ou Dama do Grão-Colar;
- Cavaleiro ou Dama da Grã-Cruz;
- Cavaleiro ou Dama Grande Oficial;
- Cavaleiro Comendador ou Dama de Comenda;
- Cavaleiro ou Dama.

Seu Grão-Magistério até hoje pertence aos descendentes de seu Fundador, sendo o Príncipe de Mesolcina, como Chefe da Sereníssima Casa Principesca de Trivulzio-Galli seu Grão-Mestre.



Ordem de Santo Huberto de Lorena e de Bar, fundada em 1502 por Renato II, Duque de Lorena, Duque de Bar e Conde de Guise, sobre origem lendária de uma outra Ordem Militar que teria sido criada sob o mesmo nome em 1416 (ou 1422). Dividia-se em três graus: 
- Cavaleiro da Grã-Cruz; 
- Comendador; e
- Cavaleiro.



Ordem Real e Militar de São Louis de França, criada em 05 de abril de 1693 pelo Rei Luís XIV de França. A Ordem pretendia premiar os méritos dos oficiais que servissem ao menos por 10 anos (logo após o período mínimo de serviço passou para 20). A Ordem foi dividida em 3 graus:
- Cavaleiro da Grã-Cruz (em número não superior a 8)
- Comendadores (em número não superior a 24)
- Cavaleiros (em número indeterminado)

Quando um Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem de São Louis era recebido na Ordem do Espírito Santo, este era "rebaixado" a mero Cavaleiro da Ordem de São Louis, afim de liberar vagas para novos Cavaleiros de Grã-Cruz. 



Ordem Militar de São Filipe e do Leão de Limburgo. Foi uma Ordem Militar instituída em 1700 pelos Condes de Limburg-Styrum, e tinha como finalidade a de premiar tanto feitos militares, como científicos e sociais. Possuía três graus:
- Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro.   



Ordem ao Mérito de São Miguel da Baviera, criada em 1721 pelo Príncipe-Eleitor José Clemente da Baviera, Arcebispo de Colônia. Após a secularização do Arcebispado de Colônia, a Ordem passou ao parente vivo mais próximo de José Clemente, que era o Rei Maximiliano I da Baviera, que a acolheu. 

O Papa Pio VII ofereceu o reconhecimento pontifício para a Ordem, porém isso não foi de todo aceito pelo Rei da Baviera, que continuou governando a Ordem como Ordem puramente Militar. Em sua criação a Ordem possuía 3 graus, que era os de Cavaleiro da Grã-Cruz, Comendador e Cavaleiro.

Contudo, em 1855 o Rei Maximiliano II da Baviera alterou seus Estatutos e lhe dividiu em 5 graus, que até hoje possui, que são os de:

- Cavaleiro de Grã-Cruz;
- Cavaleiro Grande Oficial;
- Comendador;
- Cavaleiro de I Classe;
- Cavaleiro de II Classe.

O Grão-Magistério da Ordem cabe ao Duque da Baviera, Chefe da Casa Real da Baviera.  



Ordem Militar de Maria Thereza, criada em 1757 pela Imperadora que lhe deu o nome. A Ordem foi dotada de numerosos privilégios junto a Corte Imperial em Viena, entre eles os de todos os seus membros eram elevados à Nobreza com o título de Barões. A nomeação dos Cavaleiros era feita em Capítulos, onde os próprios Cavaleiros tinham direito de opinar junto ao Grão-Mestre. A Ordem era dividida em três graus:
- Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro. 



Ordem Real e Militar de Santo Estêvão da Hungria, criada em 1764 pela Imperadora Maria Thereza da Áustria, como Monarca da Hungria. Era tida como uma "versão húngara"  da Ordem Militar de Maria Thereza. Possuía 3 graus:  
- Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro. 



Ordem dos Quatro Imperadores, criada em 06 de dezembro de 1768 por Sua Alteza Ilustríssima Philipp Ferdinand Conde de Limburg-Styrum. A Ordem possuía três graus, que eram os de:
- Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro. 


Ordem Militar de Maximiliano-José (Militär-Max-Joseph-Orden) foi criada em 01 de janeiro de 1806 pelo Rei Maximiliano I José da Baviera. Foi a primeira Ordem bávara criada em caráter puramente militar, porém não honorífica. Estava desde sua criação subdividida em três graus, que são:
- Cavaleiro da Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro.



Ordem Militar de William, criada em 1815 pelo Rei William I dos Países Baixos, como uma forma de tentar imitar a Ordem Militar de Maria Thereza da Áustria. Foi dividida em quatro classes, que são:
- Cavaleiro da Grã-Cruz;
- Comendador;
- Cavaleiro de 3ª Classe;
- Cavaleiro de 4ª Classe.

Tal Ordem julgava-se estar a caminho da extinção pela Coroa neerlandesa, pois até 2009 possuía um único Cavaleiro vivo (e que havia nascido em 1917), porém em 2009 ocorreu a nomeação de um novo Cavaleiro de 4ª Classe, e atualmente a Ordem possui 4 Cavaleiros vivos, todos Cavaleiros de 4ª Classe.  



Ordem Real de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, criada em 1818 pelo Rei Dom João VI do Reino-Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Recebeu seus primeiros Estatutos um ano depois. Era dividida em sua criação nos seguintes graus:
- Cavaleiro ou Dama da Grã-Cruz Efetivo;
- Cavaleiro ou Dama da Grã-Cruz Honorário; 
- Comendadores;
- Cavaleiros ou Damas;
- Donatos; 

Mais tarde, em 1980, o Duque de Bragança, a qual o Grão-Mestrado da Ordem cabe como Chefe da Casa Real Portuguesa, alterou seus Estatutos, a dividindo em:
- Cavaleiro ou Dama da Grã-Cruz;
- Cavaleiro ou Dama Grande Oficial;
- Cavaleiro Comendador com Placa ou Dama de Comenda com Placa;
- Cavaleiro Comendador ou Dama de Comenda;
- Cavaleiro ou Dama;



Ordem Militar de Saint-Charles, fundada em 15 de março de 1858 pelo Príncipe Charles III Grimaldi, para premiar os principais feitos militares de seu pequeno Principado. A Ordem, é dividida em cinco graus, a saber:
- Cavaleiro ou Dama da Grã-Cruz;
- Cavaleiro ou Dama Grande Oficial;
- Comendador ou Dama de Comenda;
- Oficial;
- Cavaleiro ou Dama.

sábado, 24 de agosto de 2019

SACRA MILÍCIA: 2ª parte da Pregação do Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira no Retiro anual da Ordem junto ao Convento da Ordem dos Dominicanos em São Paulo




SACRA MILÍCIA: 2ª parte da Pregação do Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira, Cavaleiro-Capelão Grande Oficial de Obediência ad Honorem da Ordem, no Retiro anual da Ordem, realizado junto ao Convento da Ordem Dominicana em São Paulo.


Participou do Retiro Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Andre III Fürst von Trivulzio-Galli, Chefe da Casa Principesca e Grão-Mestre das Ordens Dinásticas da Casa Principesca. Além de Sua Alteza Sereníssima participaram grande número de Cavaleiros das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca.



Pela parte da tarde pregou o Reverendíssimo Frei Mariano Foralosso, da Ordem Dominicana, e especialista em história das Ordens de Cavalaria.

Deo Favente! Avante Sacra Milícia!

Assim a Sacra Ordem Dinástica, Equestre, Militar e Hospitalar da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria Gloriosa (Sacra Milícia), fundada em 1209 e reconhecida por Bula Papal em 1264, mantém a formação de seus Cavaleiros, dentro dos ensinamentos da Santa Fé Católica, Apostólica e Romana.

A Sacra Milícia (Ou Ordem Militar de Santa Maria), é uma das mais antigas Ordens de Cavalaria da Cristandade. De fato foi muito atacada há alguns anos por um pequeno grupinho sectário que diz-se "católico", porém segundo uma série de Bispos (ver Dom Henrique Soares da Costa, em: https://www.domhenrique.com.br/single-post/2008/12/29/Site-Montfort-tradicionalistas-integristas-e-males-cong%C3%AAneres). Tais grupo que diz-se "católico", porém é conhecidamente sectário e mesmo herético, publicou contra a Ordem uma série de vídeos, porém não tiveram a hombridade (pleonasmo nesse caso, pois precisariam ser Homens para terem hombridade...) de o fazerem em nome próprio, e então o fizeram utilizando-se de falsos perfis... Os mesmos falsos católicos reproduziram um texto atacando a Sacra Milícia e a Sereníssima Casa Principesca de Trivulzio-Galli, texto este produzido por um determinado presbítero que havia sido expulso da Ordem por má conduta, e por violar os Estatutos da Sacra Milícia.

Tal presbítero, cujo nome nem ao menos iremos mencionar pois não é digno nem ao menos de nota, ou recordação, foi recentemente censurado pelo Arcebispo de Campo Grande (titular da Arquidiocese onde é incardinado) por sua má conduta... nada melhor que o tempo para julgar aqueles que atacaram o nome de uma Ordem de Fundação Pontifícia... Pois é, mesmo sendo expulso de uma Ordem de Cavalaria, o castigo veio "à cavalo"...

Quanto ao grupelho que atacou a Ordem, este agora encontra-se dividido e economicamente falido... a viúva de seu "fundador" atacando o atual "líder" da ceita, e ambos brigando pelas migalhas que possam tirar dos católicos que consiga ludibriar...

Pois é... como dito acima, nada melhor que o tempo para dar a cada um o que é seu...

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

SACRA MILÍCIA: Pregação do Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira no Retiro anual da Ordem junto ao Convento da Ordem dos Dominicanos em São Paulo




SACRA MILÍCIA: 1ª parte da Pregação do Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira, Cavaleiro-Capelão Grande Oficial de Obediência ad Honorem da Ordem, no Retiro anual da Ordem, realizado junto ao Convento da Ordem Dominicana em São Paulo.

Participou do Retiro Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Andre III Fürst von Trivulzio-Galli, Chefe da Casa Principesca e Grão-Mestre das Ordens Dinásticas da Casa Principesca. Além de Sua Alteza Sereníssima participaram grande número de Cavaleiros das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca.
Pela parte da tarde pregou o Reverendíssimo Frei Mariano Foralosso, da Ordem Dominicana, e especialista em história das Ordens de Cavalaria.
Deo Favente! Avante Sacra Milícia!

Assim a Sacra Ordem Dinástica, Equestre, Militar e Hospitalar da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria Gloriosa (Sacra Milícia), fundada em 1209 e reconhecida por Bula Papal em 1264, mantém a formação de seus Cavaleiros, dentro dos ensinamentos da Santa Fé Católica, Apostólica e Romana.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Heráldica Real francesa: os forros das coroas / French Royal Heraldry: Crown Liners



Fieis Leitores deste Blog de Cavalaria, após um merecido descanso de início de ano, volto a vos entediar com mais postagens, desta vez, dedicada a um tema de grande importância para os heraldistas: qual a cor correta do forro da coroa real francesa? 

Existe aí uma grande confusão que instalou-se na heráldica atual, pós vetores, onde tentam-se colocar, buscando uma certa "verdade histórica", os forros heráldicos nas mesmas cores dos forros das coroas físicas dos antigos monarcas... Assim, como a coroa imperial do Brasil teve sempre forro verde, coloca-se na versão heráldica o mesmo forro verde; e na francesa, como a cor do manto real sempre foi azul, tenta-se colocar também um forro azul. Todavia, tais heraldistas não poderiam estar mais enganados...

Uma das mais antigas regras heráldicas é que, independente da cor física do forro de uma coroa real, heraldicamente, este SEMPRE SERÁ REPRESENTADO EM VERMELHO. Vejamos o caso da Coroa de Santo Eduardo: o forro da mesma é um tom de azul escuro, quase lilás... todavia, heraldicamente a coroa real do Reino-Unido sempre foi e sempre será representada forrada de vermelho, não de azul.

O mesmo ocorre na coroa real francesa, porém, ainda com maior gravidade, como veremos a seguir. No Antigo Regime, cada um dos Reis da França usava uma coroa própria, que era feita para si, para assim evitarem o uso da chamada "Coroa de São Luís" (a mesma coroa utilizada pelo Bem-Aventurado Carlos Magno), que era assim sempre protegida. Essas coroas reais seguiam quase sempre um mesmo padrão: um aro de ouro, coberto de pedras preciosas, do qual saia oito flores-de-lis, sobre as quais saiam os oito diademas, que se uniam ao centro segurando um orbe, que sustentava uma flor-de-lis (representando a Beatíssima e Sempre Virgem Maria). 

De todas dezenas de coroas dos antigos Reis da França, apenas "sobreviveu" aos terríveis dias da Revolução Francesa, a Coroa de Louis XV. Desta forma, como a única "sobrevivente", a Coroa de Louis XV tornou-se o protótipo único da Coroa Real Francesa, isso até que a Monarquia na França seja restaurada, e o Rei tenha uma nova coroa...

Esta é a coroa de Louis XV:


Este é o forro físico da Coroa de Louis XV:

Como bem podemos ver, o forro da coroa real francesa era VERMELHO, então, de onde surgiu essa obsessão MODERNA, de afirmar que o forro seria azul?! 

Poucas imagens coloridas restaram os brasões utilizados pelos Reis Franceses durante o Antigo Regime, porém, das poucas que sobraram, sempre poderemos ver uma coisa: todas mostram a coroa real francesa forrada de VERMELHO, ou sem forro algum:

Grandes Armas do Rei Louis XVIII, com a coroa obviamente forrada de vermelho
Estandarte Real de Louis XIV, com a coroa real também (e como sempre) forrada de vemelho

Tapeçaria real com o brasão real francês, dos tempos de Louis XVI, com a coroa real forrada de vermelho
Brasão dos tempos de Louis XIV, representando França e Navarra, com a coroa real sem forro algum (mas nunca azul...)
Estandarte Real, com a coroa sempre forrada de vermelho (clique para ampliar)

Propaganda Legitimista Francesa (tendo ao centro Sua Majestade o Rei Henri V, Conde de Chambord), com o brasão real timbrado pela coroa, obviamente forrada de vermelho (clique para ampliar)

Drapeado dos Dragões Reais, durante a Restauração da Monarquia (1815-1830), com a coroa real forrada de vermelho (clique para ampliar)


Bem comprovado como historicamente falando, tanto as coroas físicas de França, como suas representações heráldicas, sempre foram forradas de vermelho, daremos agora uma breve explicação do uso dos forros na armaria real francesa, e nos casos em que sim, algumas coroas de infantes são representadas forradas de azul:

O vermelho, reconhecido na heráldica mundial como a cor majestática das coroas, estava assim reservada na França para o Rei e sua esposa, bem como para aqueles que, pelo direito da primogenitura segundo a Lei Sálica, eram tidos como "rei em espera", ou seja, o Delfim, seu filho mais velho, intitulado Duque da Borgonha, e o filho mais velho deste, que recebia o título de Duque da Bretanha, bem como as suas consortes. Eram então essas as pessoas que, em França, recebiam o forro vermelho nas coroas. Todos os demais príncipes franceses, quer fossem Filhos da França, quer fossem Príncipes de Sangue, tinham a coroa forrada de azul.

Vejamos exemplos práticos, na atual Família Real da França:

Representação heráldica da Coroa de Sua Majestade Cristinaíssima o Rei da França (ou de Sua Alteza Real o Duque de Anjou, Chefe da Casa Real da França)

Brasão de Armas de Sua Alteza Real o Príncipe Louis XX de Bourbon, Duque de Anjou, Chefe da Casa Real da França. 

Representação heráldica da coroa de Sua Majestade a Rainha da França (ou da Consorte do Chefe da Casa Real da França, a Duquesa de Anjou)

Brasão de Armas de Sua Alteza Real a Duquesa Consorte de Anjou, por direito de seu esposo, Rainha Consorte da França

Representação heráldica da coroa do Delfim da França

Brasão de Armas de Sua Alteza Real o Príncipe Louis de Bourbon, Delfim da França

Agora suponhamos que Sua Alteza Real o Delfim já tivesse um filho, que seria então intitulado como Sua Alteza Real o Duque de Borgonha, e que este também, por sua vez, já tivesse um filho, que receberia o título de Duque da Bretanha. Estes seriam os seus brasões:

Representação heráldica da coroa dos Filhos da França, sucessores diretos do Delfim em sua especial condição de "rei em espera" (os Duques da Borgonha e da Bretanha)


Brasão de Armas que cabe ao Duque da Borgonha, filho mais velho, e sucessor, do Delfim da França

Brasão de Armas que cabe ao Duque da Bretanha, filho mais velho, e sucessor, do Duque da Borgonha

Estes são os casos em que utilizam-se forros vermelhos nas coroas da Família Real da França. Os demais príncipes, como visto acima, utilizam sempre o forro azul, pois não tem as pretensões de "rei em espera".

Representação heráldica da coroa dos Filhos da França


Brasão de Sua Alteza Real o Príncipe Alfonso de Bourbon, Duque de Berry e Filho da França
(segundogênito masculino de Sua Alteza Real o Duque de Anjou)

Brasão de Armas de Sua Alteza Real o Príncipe Henri de Jesus de Bourbon, Duque de Tourraine e Filho da França
(tercerogênito masculino de Sua Alteza Real o Duque de Anjou).

São estes os Príncipes franceses que, na atualidade, possuem a categoria de Filhos da França. Mas para além deles, a linha de sucessão da Casa Real Francesa tem mais de 100 nomes, todos eles com a categoria de Príncipes de Sangue da França, Para exemplificarmos a coroa destes, mostraremos aqui os brasões do Duque de Orléans, e de seu filho mais velho, o Duque de Chartres, ambos Príncipes de Sangue da França:

Representação heráldica da coroa dos Príncipes de Sangue


Brasão de Armas de Sua Alteza o Príncipe Jean d'Orléans, Duque de Orléans, Príncipe de Sangue

Brasão de Armas de Sua Alteza o Príncipe Gaston d'Orléans, Duque de Chartres, Príncipe de Sangue

Para citação no Brasil (ABNT), usar:
PRINZ VON TRIVULZIO-GALLI, Andre. Heráldica Real Francesa: os forros das coroas, Blog de Cavalaria. 2019. Disponível em:https://www.blogdecavalaria.com/2019/02/heraldica-real-francesa-os-forros-das.html acessado em (especificar a data do acesso ao site).