Como um Legitimista convicto que sou, a simples pronúncia do título de "conde de Paris" parece-me impalatável, bem como, ouvir sobre o mesmo, parece-me algo inconcebível, todavia, mesmo como Legitimista que sou, debruçando-me sobre a história desse título, fico agora mais aliviado ao ouvir falar dele.
Antes que algum dos Fiéis Leitores chegue a errônea conclusão de que tornei-me "orleanista" (que Deus me livre disso), antes devemos esclarecer algo muito importante sobre a Monarquia na França: desde que ocorreu a revolução francesa, Louis-Philippe II d'Orléans, 5º Duque de Orléans, grão-mestre da maçonaria francesa, declara não ser um Orléans, abre mão de seus títulos e de seu sobrenome, a adota o sobrenome "Égalité" (igualdade), passando assim a se chamar Philippe Égalité, e vota pela morte de Sua Majestade Cristianíssima o Rei Louis XVI, tornando-se assim um regicida. Após a morte de Louis XVI e Louis XVII, é coroado na França Sua Majestade Imperial Napoleão I, Imperador dos Franceses, iniciando a dinastia dos Bonaparte.
Após a queda de Napoleão I, Sua Majestade Cristianíssima Louis XVIII, irmão mais novo de Louis XVI é coroado como Rei da França, é a chamada Restauração da Dinastia de Bourbon. Louis-Philippe III d'Orléans, filho de Philippe Égalité implora pelo perdão do Rei, e é readmitido na Corte como 6º Duque de Orléans. Possuía o tratamento de Alteza Sereníssima, que o Rei Louis XVIII aumenta (não se sabe se a título pessoal ou hereditário) como Alteza Real.
Após a morte de Sua Majestade Cristianíssima Louis XVIII, seu irmão é coroado Rei com o nome de Carlos X, dando continuidade a Monarquia Legitimista da Casa de Bourbon. Em Julho de 1830, uma rebelião, liderada por Louis-Philippe III d'Orléans, 6º Duque de Orléans, pretende destronar o Rei Carlos X, que então, dizendo a famosa frase "a história já nos ensinou a nunca confiar em um Orléans" e abdica a Coroa em favor de seu filho, o Delfin Louis de França, que torna-se então Sua Majestade Cristianíssima o Rei Louis XIX. Todavia, Louis XIX, também decide abdicar em favor de seu sobrinho, que torna-se então Sua Majestade Cristianíssima o Rei Henri V de França.
Louis-Philippe III d'Orléans, 6º Duque de Orléans, é então declarado Regente do jovem Rei Henri V, que então contava com tão somente 10 anos de idade, todavia, Louis-Philippe III d'Orléans, mostrando bem ser filho do regicida Philippe Égalité apenas informa aos Deputados da Abdicação do Rei Carlos X e de Louis XIX, mas nada menciona acerca do fato de Henri V ter tornado-se assim o novo Rei da França, e por meio de um golpe de estado, torna-se Sua Majestade Louis-Philippe I, Rei dos Franceses (nunca recebe o título de Rei da França, nem o tratamento de Majestade Cristianíssima). É criada então uma nova monarquia, chamada de MONARQUIA DE JULHO (pela sua curta duração de apenas 18 anos).
Este reino dos franceses, efêmero desde a sua criação, precisava de novos símbolos, de modo que, em 1831, Louis-Philippe I abre mão de seu brasão como Duque de Orléans (campo de blau com três flores-de-lis de ouro postas em roquete (Armas da França) com a diferença de um lambel de três pendentes de prata), e decide criar um novo brasão, que seria assim descrito: campo de blau carregado com um livro de ouro em forma de tábuas, e tendo nele escrito "CHARTE CONSTITUTIONNELLE 1830". Também o Rei dos Franceses adota a antiga bandeira tricolor de Napoleão, e a Legião de Honra torna-se a mais alta condecoração desta nova monarquia.
Brasão do Rei dos Franceses, que tornou-se armas alternativas da Casa de Orléans |
Nesta nova monarquia a dinastia reinante é a Casa de Orléans, que assim torna-se a Casa Real dos Franceses, mas nunca a Casa Real da França (representada no exílio pelo Legítimo Rei da França), e nesta nova monarquia, Louis-Philippe I declara seu filho mais velho como Sua Alteza Real o Príncipe Real da França (ou seja, não como Delfin, título da Monarquia Tradicional, mas sim "Príncipe Real"), e ao filho mais velho deste, Louis-Philippe d'Orléans concede o título de Conde de Paris.
Foi justamente com o Príncipe Real que irá acontecer um dos maiores fiascos políticos da Monarquia de Julho: Louis-Philippe, Rei dos Franceses, tentará casar seu filho Ferdinand-Philippe, Príncipe Real, a quem havia cedido o título de Duque de Orléans, na tentativa de dar maior respaldo legitimista; todavia, nenhuma Família Real Católica no mundo irá aceitar o pedido de casamento. Se irá tentar tratar o casamento com a Princesa Dona Januária de Bragança, Princesa do Brasil e Infanta da Portugal, filha de Dom Pedro I do Brasil, porém este, alegando motivos "de distância" recusará o casamento... se tentará então o casamento com Sua Alteza Imperial e Real a Arquiduquesa Maria Theresa de Habsburgo-Lorena, porém o Império Austríaco rejeitou a proposta com veemência. Em seguida, se tentará buscar uma noiva no pequeno Reino de Württemberg, na pessoa de Sua Alteza Real a Princesa Sophie Prinzessin von Württemberg, porém o Rei Willian I de Württemberg não aceitará o pedido de casamento, causando um enorme constrangimento contra a Casa de Orléans. Constrangimento piorado pouco depois, quando o Rei de Württemberg irá concordar que a Princesa Sophie case-se com o Conde austríaco Alfred Neipperg, deixando claro que, para o Reino de Württemberg (bem como para todas as Casas Reais), um Conde valia mais do que o Duque de Orléans...
Brasão do Príncipe Real da França, ou Príncipe Real dos Franceses, durante a Monarquia de Julho |
Sem ter mais alternativas, Louis-Philippe d'Orléans irá procurar entre as Casas Principescos protestantes alemãs uma esposa para seu filho. Encontrará no pequeno Ducado de Mecklembourg-Schwerin uma esposa, na Princesa Hélène Louise Élisabeth Prinzessin von Mecklembourg-Schwerin. Todavia persistia um sério problema: Hélène Louise era luterana, e negou-se a converter-se a Catolicismo para o casamento... Casar-se com uma Princesa de origem luterana, nunca foi um problema na França, porém era a primeira vez que uma princesa de origem luterana não abraçava a Fé Católica antes do casamento. Como a Princesa manteve-se luterana após o casamento, os descendentes desta união passaram a ser vistos como possivelmente não Dinastas para os Legitimistas.
Com a morte do Príncipe Real da França, e a derrocada de Louis-Philippe I em 1848, seus partidários passam a utilizar os símbolos da efêmera monarquia de julho como símbolos próprios, é o chamado "partido orleanista", que prega uma monarquia moderna e liberal, contrária aos ideias da Monarquia tradicionalista e Católica, representada pela Casa de Bourbon e seus apoiadores, os chamados Legitimistas.
Após a morte de Louis-Philippe I, seu neto, o Conde de Paris passa a ser chamado de Louis-Philippe II, Conde de Paris. Tentará em vão ser reconhecido por Sua Majestade Cristianíssima o Rei Henri V de Bourbon antes de sua morte, porém será em vão.
Será desta forma que passarão a haver três linhas de sucessão à França: A Sucessão Legitimista (da Casa de Bourbon, chefiada por Sua Alteza Real o Duque de Anjou, e representando quase mil anos de Monarquia Capetiana), a Sucessão Bonapartista (da Casa de Bonaparte, chefiada por Sua Alteza Imperial o Príncipe de Napoleão, representando os dois impérios franceses, de Napoleão I e Napoleão III); e por fim, a Sucessão Orleanista (da Casa de Orléans, chefiada por Sua Alteza Real o Conde de Paris, representando uma monarquia que durou apenas 18 anos, e em nada teve de ligação com a Monarquia Capetíngia).
O mais peculiar é que, pelas Leis Fundamentais do Reino da França, mesmo após todas as traições dos Orléans, eles continuam na Linha de Sucessão Legitimista ao Trono da França, o podendo reclamar Legitimamente em caso da morte de todos os Bourbons do mundo (algo que, graças a Deus, é virtualmente impossível), e para saber mais sobre isso, recomendamos essa outra postagem do Corriere della Mesolcina, clicando aqui.
Mas, desta forma, como já esclarecida a situação do que foi a efêmera Monarquia de Julho, e que, embora o Duque de Orléans, que estando na Linha de Sucessão Legitimista ao Trono da França possui os títulos de Sua Alteza Sereníssima o Duque de Orleans , Duque de Valois, Duque de Chartres, Duque de Nemours, Duque de Montpensier, Delfim de Auvergne, Príncipe de Joinville, Senescal Hereditário de Champagne, Marquês de Coucy, Marquês de Folembray, Conde de Soissons, Conde de Dourdan, Conde de Romorantin e Barão de Beaujolais, Príncipe de Sangue de França. Todavia, no caso de insistirem na sucessão do "Reino dos Franceses" da Monarquia de Julho, podem utilizar o título de Conde de Paris, que foi criado por Louis-Philippe I em 1831.
Mas, vale-se lembrar que, nem todos os pretendentes orleanistas utilizaram o título de Conde de Paris, um deles utilizou o título que lhe cabia como Duque de Orléans, e outro elegeu o de "duque de Guise", ao qual não tinha direitos, nem sob a Monarquia Legitimista, nem sob a monarquia de julho...
Brasões das esposas dos pretendentes Orleanistas:
Brasão de Sua Majestade Marie-Amélie de Bourbon-Duas Sicílias, Rainha dos Franceses, esposa de Louis-Philippe I, Rei dos Franceses |
Brasão de Sua Alteza Real a Princesa Marie-Isabelle d'Orléans-Galliera, Condessa de Paris, esposa de Louis-Philippe II, Conde de Paris |
Brasão de Marie-Dorothée de Habsbourg-Lorraine, Duquesa d'Orléans, esposa de Louis-Philippe III, Duque de Orléans |
Brasão de Isabelle Marie Laure d'Orléans, Duquesa de Guise, esposa de Jean d'Orléans, Duque de Guise |
Brasão de Isabelle d'Orléans-Bragança (ou Orléans-Eu), Condessa de Paris, esposa de Henri Robert d'Orléans, Conde de Paris |
Brasões de Armas:
Armas da França, tendo por diferença um lambel de prata de três pendentes. Coroa de Príncipe do Sangue |
Bem como, enquanto pretendente orleanista a continuador da malfadada "monarquia de julho" tem estas armas:
Campo de blau carregado com um livro de ouro em forma de tábuas, e tendo nele escrito "CHARTE CONSTITUTIONNELLE 1830". Coroa real de Louis-Philippe I dos Franceses |
E poderiam agora perguntar, mas então quando o Duque de Orléans/Conde de Paris terá direito a estas Armas?:
Armas dos Reis Cristianíssimos da França |