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terça-feira, 6 de abril de 2021

Evolução do Brasão de Armas dos Duques de Bragança / Evolution of the Coat of Arms of the Dukes of Bragança

 Fieis Leitores do Blog de Cavalaria, II Caderno do Corriere della Mesolcina. Hoje falaremos a vocês sobre a evolução no brasão de armas de Suas Excelências os Duques de Bragança, antes de Dom João II, Duque de Bragança ter-se tornado El-Rey de Portugal com o nome de Dom João IV; trataremos, portando, dos brasões da Sereníssima Casa de Bragança como Casa Ducal (1442 a 1640), e não como a Dinastia Real Portuguesa (de 1640 até nossos dias). A importância desta Casa Ducal, sem igual em toda a península ibérica foi tamanha que, todos os seus titulares foram numerados à modo das Casas da Alta Aristocracia da Europa Central, da mesma forma que os próprios Reis de Portugal.

Após 1640, quando os Duques de Bragança passam a serem os Reis de Portugal, o título e o patrimônio da Casa de Bragança continuam separados dos bens da Coroa, de modo a poder-se assim diferir o patrimônio privado da "Sereníssima Casa de Bragança" daquele da Casa Real Portuguesa, mesmo após a fusão das mesmas. Desta forma o Rei de Portugal, costuma ceder o título de Duque de Bragança ao seu herdeiro e sucessor. Houveram casos, contudo, como o do Imperador Dom Pedro I do Brasil / Rei Dom Pedro IV de Portugal, que o mesmo após abdicar da Coroa de Portugal para manter a Coroa Imperial Brasileira, não abriu mão do título de Duque de Bragança, e mesmo após abdicar da Coroa do Brasil se manterá Duque de Bragança até a sua morte.

Atualmente o título de Duque de Bragança cabe ao Chefe da Casa Real Portuguesa, e por isso é intitulado como Sua Alteza Real, sendo hoje o seu atual titular, Sua Alteza Real Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa.


O primeiro Duque de Bragança e suas Armas (1442-1461)

O primeiro Duque de Bragança foi Dom Afonso I, filho bastardo do Rei Dom Manuel I de Portugal (ele próprio um filho bastardo do Rei Dom Pedro I de Portugal), que casou-se com Dona Beatriz Pereira Alvim, filha e herdeira do Conde São Nuno Álvares Pereira. Da junção da fortuna de São Nuno com o patrimônio recebido pelo Rei, a Casa de Bragança torna-se a família mais rica da península ibérica. 

As armas do 1º Duque de Bragança foram armas simples, um escudo de prata com uma aspa de goles, carregada de cinco escudetes cozidos de blau, cada um sobrecarregado de cinco besantes de prata em aspa (chamados na tradição heráldica portuguesa de "Quinas de Portugal"). O timbre é uma cabeça e dorso de cavalo de prata (aqui também representamos com as patas dianteiras), com arreios e freios de suas cor, e ferido com três lançadas de goles.

Estas armas serão depois utilizados pelos heraldistas como as "armas do Ducado de Bragança", esquecendo que as Armas dos Duques de Bragança iriam evoluir, como veremos, até atingir a sua plenitude nos tempos do 5º Duque de Bragança. 


Dom Afonso I, 1º Duque de Bragança, representado junto de seu brasão

Armas do 1º Duque de Bragança por S.A.S. o Príncipe D. Andre Prinz von Trivulzio-Galli, como também o são os demais brasões aqui representados em desenhos vetoriais.

O segundo Duque de Bragança e seu brasão (1461-1478)

O segundo Duque de Bragança foi Dom Fernando I, filho de D. Afonso I e de Dª. Beatriz Pereira Alvim. Seu brasão de armas manteve a mesma estrutura das armas de seu pai, contudo, o problema dos escudetes cozidos de blau foi resolvido, sendo substituídos por cinco escudetes de prata, carregados por cinco pequenos escudetes de blau postos em cruz, sobrecarregados por cinco besantes de prata, postos em aspa (as "Quinas de Portugal"). 

Foi o 2º Duque de Bragança casado com Dona Joana de Casto, filha e herdeira de Dom João de Castro, 2º Senhor de Cadaval, sendo que este Senhorio foi então somado ao já enorme patrimônio da Sereníssima Casa de Bragança.



O terceiro Duque de Bragança e seu brasão (1478-1483)

 O terceiro Duque de Bragança foi Dom Fernando II, filho mais velho do 2º Duque e de sua esposa. Foi casado em duas ocasiões, a primeira, com Leonor de Menezes, de quem não teve filhos, e a segunda vez, com a Infanta Dona Isabel de Viseu, filha do Infante Dom Fernando, Duque de Viseu e de Beja. Este casamento com a Infanta Isabel teve depois uma grande importância heráldica para os posteriores Duques de Bragança, pois Dona Isabel era filha de Sua Alteza o Infante Dom Fernando de Portugal, Duque de Viseu e de sua esposa Sua Alteza a Infanta Dona Beatriz de Beja. O Infante Dom Fernando, Duque de Viseu era filho do Rei Dom Duarte I de Portugal e da Infanta Dona Leonor, Infanta de Aragão e Princesa da Sicília, sendo que, depois, as Armas de Aragão e Sicília seriam utilizadas futuramente nos brasões dos Duques de Bragança, como veremos.



As armas do 3º Duque de Bragança foram compostas por um escudo de prata com uma aspa de goles, carregada de cinco escudetes com as Armas do Reino de Portugal tendo um filete em banda e outro em contrabanda, ambos em sable. O timbre é uma cabeça e dorso de cavalo de prata (aqui também representamos com as patas dianteiras), com arreios e freios de suas cor, e ferido com três lançadas de goles.


O quarto Duque de Bragança e seu brasão (1483-1532)

O quarto Duque de Bragança foi Dom Jaime I, que teve uma relação de extrema proximidade com o Rei Dom Manuel I, ao ponto de ter sido Jurado como Príncipe Herdeiro de Portugal em 1498, pelo fato do Rei ainda não ter filhos, e da proximidade genealógica entre o Duque de Bragança e o Rei de Portugal. Este juramento de Dom Jaime I como Príncipe Herdeiro de Portugal passou a refletir também em seu brasão de armas.

O brasão do 4º Duque de Bragança foi composto pelas armas plenas do Reino de Portugal, tendo por diferença um lambel de ouro de três braços carregados de três armas de Aragão-Sicília (o lambel de ouro pela condição de Príncipe Herdeiro Jurado, e nele as armas de Aragão-Sicília pelo casamento de seu pai, como visto acima). 

Foi também na condição de Herdeiro Jurado do Trono de Portugal, que o 4º Duque de Bragança adota a serpe real como seu timbre, no lugar da cabeça e dorso de cavalo de prata, com arreios e freios de suas cor, e ferido com três lançadas de goles; porém, a diferença do Rei, que usava a serpe dourada, o Duque de Bragança a utiliza em sinopla (verde): vem daí a tradição de ligar a cor verde à Sereníssima Casa de Bragança, coisa que mais tarde, resultaria no verde como cor representativa da Dinastia de Bragança na bandeira imperial do Brasil. Mas, afinal, qual o motivo do 4º Duque de Bragança ter adotado uma serpe verde, e não de qualquer outra cor? Isso de deve à chamada "ínclita geração", ou seja, a geração dos filho d'El-Rei Dom João I de Portugal: nela, cada um dos cinco Infantes, além de diferenças nos campos dos escudos, recebeu a serpe do timbre de uma cor: (Dom Duarte, mais tarde D. Duarte I de Portugal, a recebeu dourada, como Príncipe Herdeiro; Dom Pedro, Duque de Coimbra, a recebeu de prata; Dom Henrique, Duque de Viseu, a recebeu verde; Dom João, Condestável de Portugal, a recebeu vermelha e o Bem-Aventurado Dom Fernando a recebeu azul), e como o Duque de Viseu não teve filhos, deixou seus títulos para seu sobrinho, o Infante Dom Fernando, Duque de Beja (filho mais novo do Rei Dom Duarte I), que passou assim a usar o título de Duque de Viseu e de Beja, e adotou o brasão do Duque de Viseu, com o timbre da serpe verde. Foi a filha do Duque de Viseu, a Infanta Dona Isabel de Viseu, Duquesa de Bragança, casada com o 3º Duque, como visto acima, a motivação da escolha da cor verde da serpe dos Bragança. 


Brasão de Armas do 4º Duque de Bragança, segundo o Livro do Armeio-Mor. Note-se que o paquife é nas cores goles (vermelho) e blau (azul), cores dos Duques de Bragança, que seriam depois "revividas" pela "Revolta do Remexido" 


Após o Rei Dom Manuel I ter filhos, o Duque de Bragança perde então sua condição de Príncipe Herdeiro de Portugal, todavia, conserva seu brasão de armas, e recebe o título de "Tio de Rei", título este hereditário a partir de si, no Ducado de Bragança, até os Duques de Bragança tornarem-se Reis de Portugal.


O quinto Duque de Bragança e suas Armas (1532-1563)

O quinto Duque de Bragança foi Dom Teodósio I. Será com este Duque que as Armas dos Duques de Bragança chegariam até a sua forma moderna, utilizadas até o 8º Duque de Bragança, Dom João II chegar ao Trono de Portugal como Rei Dom João IV. 


Antigo painel de azulejos portugueses, com as Armas dos Duques de Bragança, após o 5º Duque de Bragança, até 1640.


Armas do 5º Duque de Bragança, utilizadas pelos sucessores Duques até 1640

O Brasão de Armas utilizadas após o 5º Duque de Bragança, tido como "definitivo" até a coroação do 8º Duque de Bragança como Rei de Portugal foram definidas como as Armas plenas do Reino de Portugal (como utilizado por seu pai), tendo por diferença um lambel de ouro com três pendentes, tendo nos dois pendentes junto ao flanco as armas partidas de Aragão e Sicília.

Paquife em goles (vermelho) e blau (azul). O se manterá sempre a serpe de sinopla, que passou a ser o distintivo da própria Casa de Bragança. 

As Armas dos atuais Duques de Bragança 

Apenas a título de curiosidade, terminaremos esta publicação com as Armas de Sua Alteza Real o Sr. Dom Duarte Pio de Orléans-Bragança e de Bragança, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real Portuguesa:

Brasão de Sua Alteza Real o Príncipe Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa, com a banda da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, como Grão-Mestre das Ordens Reais Portuguesas.



Texto e desenhos vetoriais (alguns com elementos do Wikipédia) por 

Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Gonzaga Trivulzio-Galli, 
Duque de Venosa,
18º Príncipe e 13º Duque de Mesolcina, Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico, 
Chefe da Casa Principesca de Mesolcina. 
 

Se quiser falar com o autor, escreva para: principeandregalli@gmail.com

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