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terça-feira, 8 de março de 2022

A Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém (criação de 1910) / The Military and Hospitaller Order of Saint Lazarus of Jerusalem (created 1910)


 Fiéis Leitores do Corriere della Mesolcina, na última postagem tratamos acerca da continuação da medieval Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém nas Ordens dos Santos Maurício e Lázaro e na Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém; para ler a matéria anterior, clique aqui. Hoje trataremos acerca de uma criação bem mais moderna, que utiliza o nome da Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém, mesmo sem ter com ela qualquer veiculação histórica.


Como visto na matéria anterior, após a decisão do Rei Carlos X da França, em 1824, de descontinuar a Real Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré, a Comendadoria do Principado de Mesolcina da dita Ordem manteve-se, e com a renúncia, no ano de 1830, por parte do mesmo Rei, de dar sua proteção à Real Ordem francesa, a dita Comendadoria do Principado de Mesolcina assumiu o nome de Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, tendo por Grão-Mestre hereditário os Príncipes Soberanos de Mesolcina e depois os Chefes da Soberana Casa Principesca de Mesolcina, e esta foi a última continuadora historicamente incontestável da tradição francesa lazarista.


Todavia, em 1910, um grupo de beneméritos franceses decidiu "recriar" a Ordem de São Lázaro de Jerusalém, mesmo sem ter qualquer continuidade com a Real Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré ou sua continuadora, a Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, ou com a Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar dos Santos Maurício e Lázaro, as únicas continuadoras das tradições da Ordem de São Lázaro de Jerusalém.


Porém, entre esses beneméritos, estavam dois Cavaleiros da Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina: o Barão Yves de Constancin, Cavaleiro-Comendador da Categoria de Jure Sanguinis e o Cavaleiro Paul Watrin, Cavaleiro de Graça Magistral. Todavia, a participação destes dois Cavaleiros do Principado de Mesolcina, que foi por demais "valorizada" pelos historiadores modernos da criação de 1910, não poderia vincular a Ordem Principesca.


Este grupo de senhores franceses procurou ao Patriarca Greco-Melquita e lhe ofereceu a Proteção Espiritual de seu grupo, algo que o Patriarca Cirilo VIII aceitou imediatamente, esperando com isso obter auxílios e doações do Ocidente, algo que acabou nunca ocorrendo.  Este grupo de senhores não utilizou o nome de "ordem" em seus primeiros anos, adotando o nome de "União dos cavaleiros de São Lázaro", e, por influência dos referidos Cavaleiros de Mesolcina Barão Yves de Constancin e Paul Watrin,  ofereceram o "grão-magistério" desta União ao Príncipe Don Francesco VIII Trivulzio-Galli, então Príncipe Reinante e Soberano de Mesolcina, algo que foi recusado por Sua Alteza.


A "União francesa", como passou a ser chamada, caiu em certo esquecimento até o final da I Guerra Mundial. Em 1919 a "União dos cavaleiros" passou a auto intitular-se como "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", e passou a procurar por um príncipe de Sangue Capetiano que aceitasse seu Grão-Magistério. A procura levou décadas para encontrar alguém que o quisesse, porém em 1935 Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de La Torre, Duque de Sevilha e Príncipe do Sangue de França, aceita a nomeação. 



Porém mesmo com um Príncipe do Sangue Capetiano como Grão-Mestre, a dita "ordem" não havia sido criada por nenhum Príncipe possuidor de FONS HONORUM, de modo que não se tratava, como não se trata até hoje, de uma verdadeira Ordem de Cavalaria, mas sim apenas uma associação de pessoas de boa vontade, que realizam numerosos atos de caridade. 


Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de La Torre foi Grão-Mestre até 1952, quando foi sucedido por seu filho Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de Bourbon-Sevilha, Duque de Sevilha, que foi Grão-Mestre até 1967. O Duque de Sevilha, diante da insistência do príncipe Charles-Philippe d'Orléans, renunciou ao posto de grão-mestre, sendo eleito Charles-Philippe d'Orléans. Este príncipe da Casa d'Orléans tornou a criação de 1910 da "Ordem de São Lázaro" uma Associação Internacional e ecumênica, podendo aceitar-se nela cristãos não-Católicos.


Diante das mudanças feitas pelo príncipe Charles-Philippe d'Orléans muitos dos antigos membros da agremiação a abandonaram e criou-se a primeira de numerosas divisões da "Ordem de São Lázaro": os Cavaleiros espanhóis elegeram para voltar ao posto de grão-mestre o Duque de Sevilha, já os franceses elegeram ao Duque de Brissac, criando assim duas "obediências" a de Malta, liderada pelo Duque de Sevilha, e a de Paris, liderada pelo Duque de Brissac.


Esta divisão em duas "obediências" fez com que, há partir de 1970, surgissem mais de uma dezenas de "obediências", afirmando cada uma ser a continuadora de criação de 1910: A "Obediência de Malta"; a "Obediência de Paris"; a "Obediência de Malta e Paris"; a "Obediência de Orléans"; a "Obediência de Jerusalém" o "Grão-Priorado de Carpathia", a "União dos Grandes Priores", a "Obediência de Nápoles", etc, cada uma delas respondendo a um "grão-mestre", que pode ou não utilizar este título.



Para complicar ainda mais as coisas todas estas "obediências" são subdivididas em numerosas representações, chamadas de "Grão-Priorados", "Comendadorias", "Bailiados", "Grão-Bailiados", etc. E o nível de divisão interna é tamanha que, em alguns países existem ao mesmo tempo um "Grão-Priorado" e um "Grão-Bailiado" que pertencem à mesma obediência, porém que são totalmente independentes um do outro, de modo que um cavaleiro do Grão-Priorado da Alemanha da Obediência de Malta-Paris não participa nem reconhece outro cavaleiro do Grão-Bailiado da Alemanha da mesma Obediência de Malta-Paris, e assim por diante.


E ainda há o problema de que vários grão-priorados ou grão-bailiados, como foi o caso do Brasil, onde simplesmente mudou-se de obediência numerosas vezes, isso ao critério apenas de agradar seus dirigentes: hora fazia-se parte da Obediência de Paris, hora da de Malta, e até mesmo da Obediência de Nápoles!


Uniformes da "Obediência de Malta-Paris"


Apesar de todas as confusões internas, muitos Nobres e membros da Realeza aceitaram os títulos de alguma destas obediências. Sua Alteza Imperial e Real o Arquiduque Otto de Habsburgo, Duque de Lorena e Chefe da Casa Imperial da Áustria e Real da Hungria aceitou ser Grão-Colar da Ordem, da mesma forma que Sua Majestade o Rei dos Búlgaros, e eu mesmo, Príncipe de Mesolcina e então herdeiro da Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina aceitei ser Cavaleiro da Grã-Cruz de Justiça da mesma (o mais alto posto concedido dentro da Categoria de Nobreza). Entretanto, mesmo com todas estas Cabeças Coroadas aceitando serem membros de algumas destas obediências da criação de 1910, resta a pergunta: porque nenhuma Casa Soberana a colocou abaixo da Sua Proteção, lhe concedendo a legitimidade do Fons Honorum?


Creio eu que a resposta seja simples: todos nós, da Realeza ou da Alta Nobreza que a aceitamos o fizemos pensando em auxiliar as numerosas obras sociais realizadas por esta irmandade, não por a considerarmos como uma Ordem de Cavalaria que seria hoje "representante" da Ordem Religiosa-Militar de São Lázaro de Jerusalém. Neste sentido, numerosas publicações antigas, neste mesmo site, onde enalteço às obras caritativas da criação de 1910 da Ordem de São Lázaro. Devemos fazer propaganda das boas obras realizadas em favor dos mais necessitados! Porém não quer dizer que compactuemos com falsas histórias que tentam criar, para afirmar que seria esta tão recente criação a "continuadora" de uma Ordem Medieval abolida por Bula Papal em 1572 (com a qual se criou a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, esta sim, continuadora da Ordem Medieval de São Lázaro de Jerusalém para a Santa Sé e o Direito Canônico)...


Então, fiel leitor, caso você seja Cavaleiro ou Dama da "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", não importa de que "obediência" for, saibas que ela foi criada em 1910, e não é "herdeira" de nenhuma Ordem de Cavalaria anterior a isso, pois a herança da Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém encontra-se hoje apenas na Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, da Casa Principesca de Trivulzio-Galli e na Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar dos Santos Maurício e Lázaro, da Casa Real de Savoia. 


Cruzes das Ordens de N.S. do Carmo e de São Lázaro e dos Santos Maurício e Lázaro, as únicas continuadoras históricas da medieval (e extinta) Ordem de São Lázaro de Jerusalém


Contudo, continue colaborando com as obras de caridade da sua "obediência", pois fazer o bem aos mais necessitados é hoje uma grande necessidade à humanidade. 


OBS: Eu não duvidaria que, no futuro, algumas das ditas "obediências" de 1910 tentem adotar o nome de "Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém", nome este que hoje apenas cabe à Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, todavia, isto não irá dar maior legitimidade à uma criação feita em 1910...

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