Nesta terceira postagem que encerra, por hora, a trilogia sobre o Lazarismo, (se você não leu as matérias anteriores, recomendamos a primeira, bem como a segunda) iremos, após termos passado pela origem da Ordem Militar do Hospital de São Lázaro de Jerusalém, e após a sua extinção, a sua continuação pelas suas duas vertentes legítimas: A Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro, e a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro; bem como estudamos acerca da "irmandade" criada em 1910 (porém que apenas passou realmente a ter funcionamento após 1935) autodenominada "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", e de como esta dita "irmandade" não tem qualquer ligação com a Ordem Medieval de São Lázaro (que, como vimos, foi formalmente extinta em 13 de novembro de 1572, hoje iremos estudar acerca da única continuadora da também hoje extinta Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré: a Principesca Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina.
Como vimos, a Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém passou formalmente a existir em 16 de fevereiro de 1607, quando o Papa promulgou a Bula Pontificex Maximus autorizando o estabelecimento de uma nova Ordem, que um ano depois foi complementada com a Bula Militantium Ordinum Instituto, aprovando seus Estatutos e Regras. Em 14 de abril de 1608, Henri IV nomeou Nerestang como Grão-Mestre da nova Ordem, sendo este já Grão-Mestre de São Lázaro na França e logo depois emitiu uma Carta Patente, em 31 de outubro de 1608, em virtude da qual as duas Ordens foram unidas.
A Ordem existiu na França de modo pleno e independente de 1608 a 1824, quando, após a morte do Rei Louis XVIII, seu irmão, o Rei Carlos X, ordenou que a Chancelaria da Legião de Honra publicasse um documento oficial, pelo qual anunciava que não se realizavam no Reino da França nomeações para a Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém desde 1788, e, por desejo de Sua Majestade Cristianíssima, a Ordem deveria deixar de existir no Reino da França.
Brasão da Ordem no Principado de Mesolcina |
Uma das características desta Ordem era a capacidade de seus Grão-Mestres tinham em estabelecer Comendadorias Hereditárias, que por vezes eram concedidas, e outras vezes eram vendidas a determinados Nobres, em sua maioria na França, mas por vezes fora dela, como em Mesolcina, onde o Rei Louis XIV criou uma Comendadoria Hereditária em 1693, quando nove Cavaleiros partiram com suas respectivas famílias da França para viverem como súditos do Príncipe de Mesolcina, época então, em que Sua Alteza Magnífica o Sereníssimo Príncipe Don Antonio VII de Mesolcina requisitou a Sua Majestade Cristianíssima a criação da Comendadoria Hereditária da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém em Mesolcina.
A Comendadoria de Mesolcina permaneceu em plena atividade durante a revolução francesa, uma vez que o Principado de Mesolcina, como Principado Soberano dentro do Sacro Império Romano-Germânico escapou à saga revolucionária (não escapando porém de Napoleão, anos depois), porém a Ordem permaneceu em plena existência em Mesolcina.
Cavaleiro da Ordem com o Hábito utilizado em Mesolcina |
Quando Sua Majestade Cristianíssima o Rei Carlos X ordenou que a Ordem deixasse de existir nos Reinos da França e de Navarra, após a morte de Louis XVIII, em 1824, e quando em 1830 renuncia formalmente ao Patronato Régio da Ordem, é a extinção da Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré, esta seria assim para sempre extinta, e perderia qualquer vinculação Dinástica com a Casa Real da França quando, em 1924 completou-se 100 anos da Ordem Régia de sua extinção, sem que Suas Altezas Reais os Duques d'Anjou, Chefes da Casa Real da França, decidissem por das Seu Patrocínio Régio ao seu reagrupamento.
Porém como o ordenamento de Sua Majestade Cristianíssima apenas poderia valer em seus próprios Reinos e territórios, a Comendadoria Hereditária de Mesolcina não foi por ela atingida. Neste ato, Sua Alteza Magnífica o Príncipe Don Andrea II Trivulzio-Galli, Príncipe e Duque de Mesolcina dá seu Patrocínio Principesco para que a Comendadoria Hereditária tornasse uma Ordem de Cavalaria em direito próprio: é a criação da Principesca Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina, que continua a existir até nossos dias sendo assim, junto da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, o único receptáculo da Lazarismo Legítimo em nossos dias.
A Ordem em Mesolcina seguiu a Casa Principesca mesmo após o fim do Principado de Mesolcina em 1918: quando Suas Altezas seguiram em exílio, primeiro para a Ilha da Madeira, junto de Suas Majestades Apostólicas, e depois no Brasil, a Ordem seguiu como mais uma das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Trivulzio-Galli di Mesolcina. No Brasil, onde a lepra ainda era um mal que acometia muitas pessoas, a Ordem pode auxiliar novamente aos leprosos.
Cruz da Ordem no Principado de Mesolcina |
O patrocínio da Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina no Brasil foi reconhecido formalmente quando, nos anos 30 do século XX, após ser condecorado com a Grã-Cruz da Ordem, o então Presidente Getúlio Vargas ordenou que a mesma fosse inscrita na Heráldica Nacional, de modo que qualquer militar pudesse utilizar suas condecorações em seus uniformes e fardamentos sem necessidade de pedir autorização, e que tais condecorações contassem para o plano de carreira dos mesmos, leis que continuam em vigor até nossos dias.
Entre os anos de 1942 a 1945, devido a II Guerra Mundial, o governo federal ordenou a suspensão de todas as atividades de todos os "grupos paramilitares, associações estrangeiras ou afins", o que, de fato, levou a paralisação das atividades da Ordem de Malta, da Ordem do Santo Sepulcro, bem como da Sacra Milícia e das demais Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Mesolcina, todas, com exceção da Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina cujos trabalhos caritativos em prol dos mais necessitados e dos leprosos eram considerados tão importantes, que a mesma recebeu a distinção de ser declarada de Utilidade Pública, primeiro no Estado da Guanabara, e depois no Estado de São Paulo.
A Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina continua a realizar seus trabalhos em prol da Sociedade, não apenas no Brasil, mas em todos os países onde existam Delegações das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Mesolcina.
Caso queiras ter mais informações sobre ela, entrar em contato pelo e-mail: ordinidinastici@gmail.com
ATAVIS ET ARMIS!