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domingo, 25 de setembro de 2022

Os Attolico Trivulzio poderiam ser os verdadeiros Príncipes de Mesolcina?




A grande curiosidade gerada pela Alta Nobreza faz, em tempos modernos, onde a pesquisa online praticamente substituiu a pesquisa acadêmica, gerar sérias dúvidas mesmo em pessoas bem intencionadas, mas principalmente quando são manobradas por pessoas nem tão bem intencionadas assim... desta forma, ao pesquisar na internet pelo nome das pessoas que poderiam compor a Casa Principesca e Ducal de Mesolcina, o nome Trivulzio-Galli, ou mesmo apenas Trivulzio, chegamos há uma série enorme de artigos na internet, que vão desde artigos sobre as antigas casas de moedas do antigo Principado de Mesolcina, até mesmo ramos bastardos da extinta Casa Trivulzio. Assim, quem pesquisa e chega a nomes como Gian Giacomo Attolico Trivulzio poderia pensar: não seria este o herdeiro de melhor direito ao Principado de Mesolcina do que Sua Alteza Magnífica e Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Gian Giacomo Gonzaga Trivulzio-Galli, Duque e 18º Príncipe de Mesolcina?

E é importante frisarmos EXTINTA Casa Trivulzio... mas então, não existe mais nenhum membro da Casa Trivulzio? A resposta pode parecer decepcionante para muitos, mas a resposta é NÃO, a Casa Trivulzio extinguiu-se em sua linhagem Masculina e Legítima com a morte, sem herdeiros masculinos, do Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, 3º Príncipe Imperial de Mesolcina (título este Imperial concedido em 17 de setembro de 1622) e 9º Príncipe de Mesolcina e Par de França (título este não Imperial, mas francês, concedido em 1499). 

Por este motivo, o Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, filho único que era do Príncipe Don Ercole I Trivulzio, 2º Príncipe Imperial de Mesolcina e 8º Príncipe de Mesolcina e Par de França, decide adotar como seus sucessores dinásticos aos filhos de sua tia, a Princesa Donna Ottavia Trivulzio de Mesolcina, irmã mais velha de seu pai, filha que era do Príncipe Don Gian Giacomo Teodoro II Trivulzio e de sua esposa a Princesa Donna Giovanna Grimaldi do Mônaco. 

A Princesa Donna Ottavia Trivulzio de Mesolcina era casada com o Príncipe Capetiano Don Tolomeo III Galli, 4º Conde-Duque d'Alvito, e desde casamento nasceram, entre outros, os Príncipes Don Francesco e Don Antonio Gaetano, Duques de Alvito-Mons, declarados herdeiros universais de seu primo-irmão, o supracitado Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, com a condição de que assumissem o nome Trivulzio e seu brasão d'Armas.

Este processo de adoção dos Duques de Alvito-Mons como herdeiros, não apenas de Nomes e Armas, mas de um Principado Soberano dentro do Sacro Império Romano-Germânico precisava, necessariamente, da concordância do Sacro Imperador, ainda mais levando em consideração a origem Capetiana da Casa de Galli d'Alvito, descendentes diretos que eram dos Reis de França através do ramo dos Condes de Dreux. 


Pequenas Armas da Casa Principesca de Gonzaga Trivulzio-Galli, no I da Varonia Capetiana de Dreux moderno, no II de Trivulzio, no III d'Alvito, e em escudete oval, o Sagrado Coração de Jesus e sobre ele o Imaculado Coração de Maria.



Com o falecimento, em 1678 do Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, extinguiu-se o último ramo masculino legítimo da Casa Trivulzio, restando, contudo, ramos bastardos. O testamento do último Príncipe Trivulzio foi levado então para o julgamento do Sacro Imperador Leopoldo I, que em 1681, por meio da chamada Bula de Ferro reconheceu como válidas as disposições testamentárias do falecido Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, e cria oficialmente a Casa de Trivulzio-Galli, do Sangue Capetiano, como uma Casa Principesca do Sacro Império Romano, com Soberania Imediata sobre o território do Principado de Mesolcina.

Todavia, insatisfeitos com esta disposição do falecido Príncipe Don Antonio VI Trivulzio, Alessandro Teodoro Trivulzio, Marquês de Sesto Ulteriano, entra com um processo junto ao Senado do Ducado de Milão, visando reverter a Bula Imperial, e obter para si os Direitos Sucessórios da Casa de Trivulzio de Mesolcina.

Mas quem era Alessandro Teodoro Trivulzio? Se ele era um autêntico Trivulzio, não teria ele melhor direito aos títulos da Casa de Mesolcina do que os Capetianos Trivulzio-Galli? A resposta é não, por motivo muito simples: Alessandro Teodoro nasceu sem o sobrenome Trivulzio, era filho de Giorgio Teodoro, filho por sua vez de Paolo Alessandro, que era alegadamente um dos filhos bastardos de Don Gian Giacomo Teodoro I Trivulzio, Conde de Melzo.  

Este filho bastardo do Conde de Melzo buscou, mas nunca foi reconhecido por seu suposto pai, morrendo em 1589 sem nunca ter obtido o reconhecimento paterno nem o sobrenome Trivulzio. Seu filho, Giorgio Teodoro, buscou o reconhecimento nunca obtido por seu pai após a morte deste e de Don Gian Giacomo Teodoro I de Melzo, contudo, nunca o obteve da parte do Chefe da Casa de Mesolcina, à época o Príncipe Don Carlo Emanuele I Teodoro Trivulzio; buscou assim Giorgio Teodoro ser reconhecido por uma potência estrangeira, obtendo o reconhecimento da parte do Rei da Espanha que lhe concede, ex novo (ou seja, sem conseguir ligação com a original Casa Trivulzio, se lhe concedia o nome Trivulzio de modo novo) junto com o título de Conde de Sesto Ulteriano.

Brasão dos Marqueses de Sesto Ulteriano: Armas pequenas de Trivulzio, com a contra-banda de goles, em sinal de bastadia



Nascia assim o ramo dos "Trivulzio di Sesto Ulteriano", que após a morte de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Antonio VI Trivulzio buscaria conseguir, por meio de um processo judicial junto ao Ducado de Milão os direitos da Casa de Mesolcina.

Todavia o Senado do Ducado de Milão, aceitando a solicitação judicial dos Marqueses de Sesto Ulteriano lhes negou seu pedido e os condenou ao pagamento das custas judiciais, baseando sua sentença nos seguintes pontos, já exposto na Bula de Ferro da Sacro Imperador Leopoldo I:

1: O último homem da família Trivulzio, nascido de casamento legítimo foi o Príncipe Don Antonio VI Trivulzio; com sua morte, em 1678 extinguiu-se completamente todos os ramos legítimos da Casa Trivulzio, não sendo possível aos ramos bastardos sucederem em direitos.

2: Os Sesto Ulteriano, ditos "Trivulzio" por decreto de um rei estrangeiro, seriam descendentes bastardos de Don Gian Giacomo Teodoro I Trivulzio, Conde de Melzo, não descendendo assim de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Gian Giacomo Teodoro II Trivulzio, criado 1º Príncipe Imperial de Mesolcina pela chamada Bula Dourada do Sacro Imperador Fernando II de Habsburgo, de 17 de setembro de 1622, e como os títulos imperiais apenas poderiam ser herdados pelos descendentes legítimos do primeiro titular, os Trivulzio de Sesto Ulteriano jamais poderiam herdar os direitos ao Principado Soberano de Mesolcina;

E é importante frisarmos este ponto: os Trivulzio di Sesto Ulteriano não descendem do 1º Príncipe Imperial e Duque de Mesolcina, por isso jamais poderiam herdar-lhe os direitos; bem como, eram apenas descendentes de um suposto filho bastardo do Conde de Melzo, avô do 1º Príncipe e Duque de Mesolcina, e bastardos jamais herdaram no Sacro Império Romano.

3: Como o Principado-Ducado de Mesolcina gozava de Imediatismo Imperial, sendo assim um Estado Soberano dentro do Sacro Império Romano-Germânico, o decreto do Rei da Espanha que deu o sobrenome "Trivulzio" a Giorgio Teodoro, Conde de Sesto Ulteriano, não obrigava aos Duques Soberanos de Mesolcina, que jamais admitiram este ramo ilegítimo como parte da Principesca e Ducal de Mesolcina.

4: Ainda dentro do direito de Soberania dos Principados Imediatos do Sacro Império Romano, em caso da morte sem herdeiros de um Príncipe, cabia a este nomear seu herdeiro, desde que esta nomeação fosse aceita pelo Sacro Imperador, o que se deu com a nomeação dos Trivulzio-Galli pelo Duque e Príncipe Don Antonio VI Trivulzio em 1678, e a aprovação por parte do Sacro Imperador Leopoldo I em 1681.

5: Como os Príncipes do Sangue Capetiano Don Francesco Gonzaga Trivulzio-Galli, Duque de Alvito-Mons e seu irmão Don Antonio Gaetano Gonzaga Trivulzio-Galli, Duque de Alvito-Mons eram netos de Sua Alteza Sereníssima o Duque e Príncipe Don Gian Giacomo Teodoro II Gonzaga Trivulzio e de sua esposa a Princesa Donna Giovanna Grimaldi do Mônaco, por meio de sua filha mais velha a Princesa Donna Ottavia Gonzaga Trivulzio, casada com o Príncipe Capetiano Don Tolomeo III Galli, 4º Conde-Duque d'Alvito, e pela extinção dos machos legítimos descendentes do dito Duque e Príncipe Don Gian Giacomo Teodoro II Gonzaga Trivulzio, os Duques d'Alvito-Mons tornaram-se os herdeiros de melhor direito, e desta forma foram adotados pelo último Príncipe Trivulzio, e adotaram o nome e o brasão d'Armas da Casa Trivulzio, assim tornando-se os únicos herdeiros da Soberana Casa Principesca de Trivulzio de Mesolcina, que a partir da Bula de Ferro passava a ser conhecida como Casa Principesca e Ducal de Trivulzio-Galli de Mesolcina.

Diante desta contundente sentença Alessandro Teodoro Trivulzio, Marquês de Sesto Ulteriano, condenado a pagar os custos do processo, bem como seus descendentes, buscaram sempre manter uma melhor relação com os Gonzaga Trivulzio-Galli, Príncipes e Duques de Mesolcina, contudo, jamais foram admitidos como parte da Casa de Mesolcina, afinal, a origem bastarda de seu ramo, como de outros ramos bastardos da família Trivulzio que ainda existem, jamais poderá ser sanada. 

Os Marqueses de Sesto Ulteriano chegaram a obter, por parte do Rei da Itália Umberto I o título de Príncipes de Musocco (não confundir Musocco, uma região histórica de Milão, com Mesocco, Capital do Principado de Mesolcina), mas não obtiveram o tratamento de Alteza, apenas o de Excelência, sendo este título concedido em 1885.

Mas, pessoas privadas de boa-fé, mesmo diante da Bula Imperial do Sacro Imperador Leopoldo I, bem como da Sentença do Ducado de Milão, mesmo assim poderiam tentar arguir que a concessão, por parte do Rei da Itália, do título de Príncipes aos Trivulzio de Sesto Ulteriano fariam deles possíveis pretendentes ao Trono de Mesolcina, e que portanto, Sua Alteza Magnífica e Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Trivulzio-Galli, Duque de Mesolcina (Que tem por nome de Batismo Príncipe Don Andrea Federico Albert Gian Giacomo Teodoro Pio Valente Giuseppe Maria Paolo Gonzaga Farnese Gonzaga Trivulzio-Galli Prinz und Herzog von Mesolcina, Herzog von Alvito, conforme pode ser comprovado pelo Assento de Batismo registrado no Livro nº 47, da Paróquia N.S. Aparecida, página 07, frente, Registro nº 51, de 26/05/1990 livro este que encontra-se no Arquivo do Bispado de Frederico Westphalen-RS, onde está disponível a pública pesquisa), temos apenas uma última informação que lhes servirá como um autêntico balde d'água fria:

OS TRIVULZIO DI SESTO ULTERIANO FORAM EXTINTOS NO ANO DE 1978!

Conde Gian Giacomo Attolico "Trivulzio" diante dos arquivos dos Trivulzio de Sesto Ulteriano, que herdou do último Trivulzio de Sesto Ulteriano, falecido em 1978



Sim, você que tentou pesquisar quem era Gian Giacomo Attolico Trivulzio, e viu que o mesmo nasceu no ano de 1951, e assim pensou que poderiam ter localizado "um Trivulzio" para tentar fazer frente aos Direitos Dinásticos da Casa Principesca de Trivulzio-Galli, deveria ter atentado-se ao fato de que:

O último Trivulzio masculino do ramo bastardo e não dinástico dos Marqueses de Sesto Ulteriano foi Gian Giacomo Trivulzio, III Príncipe de Musocco, X Marquês de Sesto Ulteriano, e este faleceu sem descendência masculina em 1978.

Como o título de Príncipe de Musocco era um título de criação sabauda, apenas poderia ser herdado por via masculina, bem como o título de Marquês de Sesto Ulteriano, que apesar de originalmente ter sido criado pelo Rei da Espanha, como Conde de Sesto Ulteriano, foi nacionalizado italiano, a pedido dos próprios Marqueses, em 1870, e passou assim a ser herdado da mesma forma que os títulos sabaudos. 

A única filha do último Trivulzio de Sesto Ulteriano foi Luisa Alberica Trivulzio, que casou-se com Lorenzo Attolico, II Conde de Adelfia, e deste casamento nasceu Gian Giacomo Attolico Trivulzio, III Conde de Adelfia.

Brasão de Armas dos Attolico "Trivulzio", Condes de Adelfia, no primeiro de Attolico, de prata com uma água estendida de sable, tendo em chefe três estrelas cozidas, e no segundo de Trivulzio de Sesto Uteriano



Como o último Trivulzio di Sesto Ulteriano morreu em 1978, após o fim da Monarquia na Itália, a única alternativa para a renovação do título do extinto ramo dos Trivulzio de Sesto Ulteriano nos Attolico de Adelfia teria sido por meio de um decreto do deposto Rei Umberto II, que mesmo no exílio continuava a conceder e validar títulos, todavia, isso nunca ocorreu, falecendo o Rei em 1983, sem conceder a renovação dos títulos de Príncipe de Musocco e Marquês de Sesto Ulteriano a Gian Giacomo Attolico, extinguindo assim a única possibilidade dos Attolico herdarem os títulos de Marqueses de Sesto Ulteriano e Príncipes de Musocco. Assim, o fato de Gian Giacomo Attolico Trivulzio levar no nome o apelido dos Trivulzio não faz dele um Trivulzio, ele é apenas um Attolico, e isto jamais poderá ser mudado... já que é filho de Lorenzo Attolico!

Todavia, Sua Alteza Magnífica e Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Gonzaga Trivulzio-Galli, XVIII Duque e Príncipe de Mesolcina busca sempre manter um bom relacionamento com o Conde de Adelfia, uma vez que este busca esforça-se ao máximo para manter a cultura da extinta família Trivulzio, mantendo um site na internet, e dando palestras em Milão, como uma grande homenagem a sua falecida mãe Luisa Alberica. 

Não há hoje, como jamais houve, qualquer desentendimento entre Sua Alteza Magnífica e Sereníssima o Duque e Príncipe Don Andrea III Gian Giacomo Gonzaga Trivulzio-Galli e o Conde Gian Giacomo Attolico Trivulzio: cada um deles reconhece a importância do trabalho pela preservação da memória da extinta Casa de Trivulzio que cada um faz, e sobre tudo, o Conde de Adelfia tem plena noção de que apenas 3 Gonzaga Trivulzio reinaram como Príncipes e Duques de Mesolcina, enquanto 15 Gonzaga Trivulzio-Galli reinaram como Príncipes e Duques de Mesolcina ou foram Pretendentes ao Principado e Ducado de Mesolcina.

Sua Alteza Magnífica e Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Gonzaga Trivulzio-Galli, Duque e XVIII Príncipe de Mesolcina, lê o ato de Consagração do Principado de Mesolcina ao Sagrado Coração de Jesus por meio do Imaculado Coração de Maria, ladeado pelos Cavaleiros da Ordem Religiosa-Militar de Santa Maria Gloriosa, sendo que o VIII Conde de Rubbiano segura a Bandeira do antigo Principado de Mesolcina.



Para aqueles que buscam que haja algum mal estar entre Sua Alteza o Príncipe e Duque de Mesolcina e o Conde de Adelfia, devem pensar que é uma situação semelhante ao que ocorre na Casa Imperial do Brasil: apesar de Dom Pedro I e Dom Pedro II terem sido Bragança, a Casa de Bragança extinguiu-se no Brasil com a morte de Dom Pedro II, sendo que hoje os pretendentes ao Trono Imperial do Brasil são os Orléans-Bragança. Pesquisar na internet por alguém com o sobrenome de "Bragança" e tentar o colocar como um possível "pretendente" ao Trono Imperial, no lugar dos Orléans-Bragança é a mesma tolice do que tentar que um Attolico Trivulzio seja pretendente ao Trono do Principado de Mesolcina no lugar do Chefe da Casa Principesca de Trivulzio-Galli.

Para falar com Sua Alteza Sereníssima o Príncipe e Duque de Mesolcina, envie e-mail para o Secretariado Privado do Príncipe, através do e-mail mesolcina.it@gmail.com 

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Brasões dos Membros da Casa Imperial do Brasil (atualizado após a morte de Dom Luiz)

                                            


 Fiéis Leitores do Corriere della Mesolcina, hoje, irei publicar um estudo que, venho desenvolvendo ao longo dos anos, e que irá interessar a muitos de vocês: a Heráldica na Casa Imperial do Brasil.

Primeiramente, gostaria de afirmar sobre a grande dificuldade que envolve este estudo, pois, tanto no Reino do Brasil como no Império do Brasil a heráldica era pouco desenvolvida em suas regras próprias. Nos Reinados de Dona Maria I e Dom João I, a heráldica seguiu as regras próprias da heráldica portuguesa. Já depois da separação do Império do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, no Reinado de Dom Pedro I a heráldica manteve-se basicamente próxima à heráldica portuguesa, já tendo, contudo, reflexos da heráldica francesa. Durante o Reinado de Dom Pedro II, de fato, a heráldica brasileira foi "inundada" por modas típicas da heráldica francesa. 

Porém, ao se analisar os brasões da Casa Imperial do Brasil, chegamos a uma série de regras não escritas, mas que seguem por base no costume. Aqui queremos deixar claro que estamos falando da heráldica, não da vexilologia (estudo das bandeiras), de modo que, a realidade heráldica que aqui demonstramos, não alteraria a bandeira do antigo Império do Brasil.

1 Costume: Após a morte da Princesa Dona Isabel de Bragança, Condessa d'Eu, Chefe da Casa Imperial do Brasil entre 1891 a 1921, extinguiu-se o ramo brasileiro da Casa de Bragança. Seus três filhos com o Príncipe Luís Gastão de Orléans, Conde d'Eu, herdaram a varonia paterna (Orléans, ramo cadete da Casa Real da França, hoje Chefiada por Sua Alteza Real o Duque de Anjou), e, mesmo que tenham mantido o sobrenome dinástico "Orléans e Bragança", de fato são membros da Casa de Orléans. Por este motivo, sobre o antigo escudo imperial brasileiro, carrega-se um escudete, com as armas dos Orléans.


2 Costume: O número de estrelas varia com a quantidade de unidades federativas brasileiras (atuais Estados, antigas Províncias), de modo que, os atuais Dinastas da Casa Imperial do Brasil, tem em seus brasões 27 estrelas (para os 26 estados mais o distrito federal). Os não Dinastas, carregam em seus brasões o número de estrelas correspondente ao número de unidades federativas, ao tempo em que perderam seus direitos dinásticos.


3 Costume: O Ramo Primogênito da Princesa Isabel e do Conde d'Eu não é um ramo dinástico. O Chamado "ramo de Petrópolis" apenas tem direitos dinásticos (tal qual todos os membros nascidos de casamento católico da Casa Imperial do Brasil) ao extinto Trono da França, logo, possuem o tratamento de Príncipes de Sangue da França, e estão na Linha de Sucessão ao Trono Francês após os Bourbon-França, os Bourbon-Espanha, os Bourbon Duas Sicílias, os Bourbon-Parma, os Bourbon-Nassau, e os Orléans, estando na frente dos Orléans-Galliera. 


4 Costume: Como Dom Pedro I decretou que continuariam a viger no Império do Brasil as Leis que até então haviam vigido no Reino do Brasil, desde que estas não fossem abolidas ou substituídas por novas leis, a heráldica oficial durante toda a Monarquia Brasileira foi a Portuguesa, e será, com base nesta, que iremos blasonar os brasões dos membros da Casa Imperial do Brasil:


Aviso: Nós iremos utilizar os títulos e denominações que foram dadas por dom Pedro I na Constituição Política do Império do Brasil.


Quando falarmos nas Armas Imperiais do Brasil, falaremos em: um campo de sinopla, com uma esfera armilar de ouro, transpassada pela Cruz da Ordem Religiosa-Militar de Cristo e encerrada em um listel de blau, orlado de prata e polvilhado com o número de estrelas do mesmo metal, correspondente a cada Príncipe; sobreposto, um escudete tendo as Armas dos Duques de Oléans – de blau, com três flores de lis de ouro, postas em roquete, e, em chefe, um lambel de três pontas de prata; Ao redor do escudo a banda da mais alta condecoração Dinástica que por ventura venha o armigerante a possuir. 

Suportes: um ramo de tabaco, florido, à sinistra, e um ramo de café, frutificado, à destra, ambos de sua própria cor e unidos por um laço de goles. 

Timbrando o escudo, a Coroa correspondente. 


Para o Imperador ou Chefe da Casa Imperial, agrega-se: atrás do escudo, cruzados da sinistra para a destra e da destra para a sinistra, o Cetro do Império do Brasil e o Cetro da Mão da Justiça, ambos de ouro.

Coroa Diamantina (a do Império do Brasil), com 8 diademas de ouro cravejado de pérolas, 5 visíveis e forro de goles.

Condecoração: a Banda da Imperial Ordem do Cruzeiro, transpassada pelo laço dos suportes.

Pavilhão: de sinopla, recolhido, com dossel, cordões e franjas de ouro e forro de arminho, o todo encimado pela Coroa do Império do Brasil. 


Brasões históricos:

Brasão de Sua Majestade Imperial e Fidelíssima o Imperador Dom Pedro I do Brasil e IV de Portugal e Algarves, Aquém e Além Mar, Defensor Perpétuo do Brasil e Duque de Bragança.

Armas Imperiais do Brasil, tendo 19 estrelas em orla. Ao redor do escudo a Banda da Imperial Ordem do Cruzeiro. Sobre o escudo a Coroa Imperial de Dom Pedro I.


Armas de Sua Majestade Imperial o Imperador Dom Pedro II do Brasil, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil

Armas Imperiais do Brasil, tendo 20 estrelas em orla. Ao redor do escudo a Banda da Imperial Ordem do Cruzeiro. Sobre o escudo a Coroa Diamantina.


Armas de Sua Majestade Imperial a Imperadora Titular Dona Isabel I do Brasil (uma Chefe de Estado de um Império é chamada de Imperadora; Imperatriz é a Consorte de um Imperador) Imperadora Constitucional de Ius e Defensora Perpétua do Brasil, Condessa d'Eu
Armas Imperiais do Brasil, tendo 20 estrelas em orla. Ao redor do escudo a Banda da Imperial Ordem do Cruzeiro. Sobre o escudo a Coroa Diamantina.


Armas de Sua Majestade Imperial o Imperador Consorte Dom Luís I Gastão de Orléans, Conde d'Eu, Imperador Titular Consorte do Brasil

Armas plenas dos Orléans. Ao redor do escudo a Banda da Imperial Ordem do Cruzeiro. Sobre o escudo a Coroa Diamantina.


Armas de Sua Majestade Imperial o Imperador Titular do Brasil Dom Pedro III Henrique de Orléans e Bragança, Duque de Némours (título adquirido em 1970 pelo chamado "Pacto de Bruxelas") Imperador Constitucional de Ius e Defensor Perpétuo do Brasil, Chefe da Casa Imperial do Brasil, Príncipe do Sangue

Brasão composto pelas Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 23 estrelas de prata. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem do Cruzeiro. Sobre o escudo a Coroa Imperial do Brasil (Coroa Diamantina) 


Armas de Sua Majestade Imperial o Imperador Titular do Brasil Dom Luís II Gastão de Orléans e Bragança, Duque de Némours, Imperador de Ius e Defensor Perpétuo do Brasil Príncipe do Sangue de França:

Brasão composto pelas Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 27 estrelas de prata. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul. Sobre o escudo a Coroa Imperial do Brasil (Coroa Diamantina) 


PRÍNCIPES DINASTAS DA CASA IMPERIAL DO BRASIL

Brasão de Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Bertrand I de Orléans e Bragança, Duque de Némours, Chefe da Casa Imperial do Brasil, Imperador de Ius e Defensor Perpétuo do Brasil, Príncipe do Sangue:

Brasão composto pelas Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 27 estrelas de prata. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul. Sobre o escudo a Coroa Imperial do Brasil (Coroa Diamantina) 


Brasão de Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Antônio de Orléans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil, Príncipe do Brasil, Príncipe do Sangue:

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 27 estrelas de prata, e por diferença, um lambel de prata de três pendentes. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a Coroa de Príncipe Imperial do Brasil.



Brasão de Sua Alteza Imperial a Princesa Dona Cristine de Ligne, Princesa Consorte Imperial do Brasil, Princesa do Brasil, Princesa de Ligne.

Armas partidas: no I as armas de seu esposo, o Príncipe Imperial do Brasil. No II as armas de seu pai, o Príncipe de Ligne e do Sacro Império Romano-Germânico. Ao redor do escudo, o Colar da Grã-Cruz Efetiva da Imperial Ordem da Rosa. Sobre o escudo a Coroa de Princesa Imperial do Brasil.



Brasão de Armas de Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Rafael de Orléans e Bragança, Príncipe do Grão-Pará, Príncipe do Brasil, Príncipe do Sangue.


Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 27 estrelas de prata, e por diferença, um lambel de prata de três pendentes, carregados cada um com uma rosa florida de goles, abotada douro e folhada de sinopla (lambel do Príncipe do Grão-Pará). Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a Coroa do Príncipe do Grão-Pará.


Brasão de Sua Alteza a Princesa Dona Maria Gabriela de Orléans e Bragança, Princesa do Brasil, Princesa do Sangue


 
Armas: Um losango partido, no I de prata (para as armas de seu futuro esposo), no II com as armas de seu pai, o Príncipe Imperial do Brasil. Sobre o escudo a Coroa de Princesa do Brasil



PRÍNCIPES NÃO DINASTAS DA CASA IMPERIAL DO BRASIL

Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança, Príncipe do Sangue


Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 23 estrelas de prata, e por diferença, uma merleta de ouro no cantão destro do chefe. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a coroa de Príncipe da Casa Imperial do Brasil.



Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Fernando de Orléans e Bragança, Príncipe do Sangue

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 22 estrelas de prata, e por diferença, uma arruela de ouro no cantão destro do chefe. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a coroa de Príncipe da Casa Imperial do Brasil.


Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Francisco de Orléans e Bragança, Príncipe do Sangue

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 23 estrelas de prata, e por diferença, uma rosa de ouro no cantão destro do chefe. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a coroa de Príncipe da Casa Imperial do Brasil.


Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Alberto de Orléans e Bragança, Príncipe do Sangue

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 24 estrelas de prata, e por diferença, uma cruz bifurcada de ouro no cantão destro do chefe. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans. Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a coroa de Príncipe da Casa Imperial do Brasil.



Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Príncipe do Sangue

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 23 estrelas de prata, e por diferença, um crescente de ouro no cantão destro do chefe. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Duques de Orléans (armas de seu pai, o falecido Príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança). Ao redor do escudo a banda da Imperial Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil. Sobre o escudo a coroa de Príncipe da Casa Imperial do Brasil.



"Ramo de Petrópolis"

Estes Príncipes do Sangue de França, Príncipes titulares de Orléans-Bragança, até o ano de 2020 não eram considerados como Príncipes da Casa Imperial do Brasil. Todavia, este posicionamento parece ter mudado naquele ano, quando através do livro "Genealogia da Casa Imperial do Brasil", cita-se que: 
"Os descendentes na linhagem varonil legítima do Príncipe Dom Pedro de Alcantara de Orleans e Bragança, que, em 1908, quando ainda era o Príncipe Imperial do Brasil, renunciou solenemente, por si e sua eventual descendência, aos seus direitos ao Trono e à Coroa do Brasil, são igualmente Príncipes e Princesas da Casa Imperial. A não inclusão deste ramo primogênito, mas sem direitos dinásticos, da Família Imperial Brasileira neste trabalho se deve única e exclusivamente ao fato de seus membros terem, sistematicamente, ao longo das décadas, falhado em manter a Chefia da Casa Imperial oficialmente informada de seus acontecimentos familiares, como casamentos e nascimentos." 

Desta forma citamos os ditos Príncipes de Orléans-Bragança:

Brasão de Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Pedro de Orléans e Bragança, Conde d'Eu, "Príncipe Titular de Orléans e Bragança" (ou "Príncipe de Orléans-Eu"), Príncipe do Sangue de França

Brasão das Armas Imperiais do Brasil, tendo em orla 20 estrelas de prata, e por diferença, um lambel de ouro de três pendentes. Sobre o abismo, um escudete com as Armas dos Condes d'Eu (de blau, três flores-de-lis d'ouro em 2-e-1, armas de França, tendo por diferença um lambel de goles de três pendentes, com três castelos d'ouro em cada pendente). Coroa de Príncipe de Sangue da França.


Armas de Sua Alteza o Príncipe Dom Pedro Tiago de Orléans e Bragança, Conde Herdeiro d'Eu, Príncipe do Sangue de França. 

Armas de seu pai, tendo por diferença, um crescente de goles aplicada ao pendente central do lambel de ouro. 


Os textos e desenhos são de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Andrea III Prinz von Trivulzio-Galli, Duque e 18º Príncipe e 13º Duque de Mesolcina e do Sacro Império Romano-Germânico. Chefe da Casa Principesca de Mesolcina. Proibida a utilização sem prévio consentimento por escrito da parte do autor. 

Para falar com Sua Alteza Sereníssima o Príncipe e Duque de Mesolcina, envie e-mail para o Secretariado Privado do Príncipe, através do e-mail mesolcina.it@gmail.com 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Seria o Duque de Némours o novo Chefe da Casa Imperial do Brasil?

 Foi com grande consternação que os monarquistas brasileiros acompanharam, nos últimos meses, a piora no estado de saúde de Sua Alteza Imperial e Real o Príncipe Dom Luiz Gastão d'Orléans e Bragança, Chefe indiscutível da Casa Imperial do Brasil, e seu falecimento. Hoje, dia em que Dom Luiz Gastão foi sepultado, nos questionamos, seria o Duque de Némours o novo Chefe da Casa da Casa Imperial do Brasil?


Não haja dúvida de que o imediato herdeiro e sucessor nos direitos dinásticos de Dom Luiz Gastão é seu irmão, Sua Alteza Imperial e Real o Príncipe Dom Bertrand d'Orléans e Bragança, porém o tema que leva-me a escrever este artigo é sobre o oportuno título que deveria ser carregado pelo Chefe da Casa Imperial do Brasil, assumindo que todos saibam que "Chefe da Casa Imperial do Brasil", ao contrário de Príncipe Imperial do Brasil, ou Príncipe do Grão-Pará, não é um título, mas sim uma função. Assim sendo, que títulos poderia o Chefe da Casa Imperial do Brasil adotar para melhor ser conhecido e reconhecido?


O primeiro questionamento que se poderia fazer é: porque motivo o Chefe da Casa Imperial do Brasil deveria levar um título? Essa resposta é facílima de ser respondida: porque este é o costume. Quando uma Dinastia é derrubada de seu Trono, torna-se um Dinastia ex-reinante; o último Monarca coroado dessa dinastia mantém seu tratamento Majestático (como ocorreu com Dom Pedro II), porém o próximo Chefe dessa Dinastia deve eleger um título de pretensão, que para os monarquistas, tem o mesmo significado que o título do Imperador ou do Rei.



Vejamos alguns exemplos: Quando derrubou-se a monarquia em Portugal, Dom Manuel II continuou a ser chamado se Sua Majestade Fidelíssima El-Rei. Porém quando este faleceu, sendo sucedido por seu primo na Chefia da Casa Real Portuguesa, este elegeu o título de Duque de Bragança para o representar, que para os monarquistas portugueses tem então o mesmo significado que o de Rei de Portugal...


Também na Espanha, quando fora derrubada a Monarquia, o Rei Afonso XIII continuou a ser chamado de Sua Majestade Católica o Rei, porém, quando foi sucedido por seu filho Don Juan como Chefe da Casa Real da Espanha, este elegeu o título de Conde de Barcelona, que utilizou por toda a vida, mesmo após a restauração da Monarquia na pessoa de seu filho o Rei Don Juan Carlos I. 


Para os monarquistas franceses, sejam eles Legitimistas, como eu, em que o Chefe da Casa Real é o Príncipe Louis de Bourbon, este é chamado pelo título de Duque d'Anjou, ou seja orleanista, quando o Chefe da Casa Real é o Príncipe Jean d'Orléans, este utiliza o título de Conde de Paris



O mesmo ocorre entre os dois ramos da Casa Real das Duas Sicílias, onde existe uma verdadeira disputa dinástica (coisa que nunca ocorre "há sério" no Brasil), onde os defensores do Príncipe Don Pedro de Bourbon-Duas Sicílias o chamam pelo título de Duque de Calábria e os defensores do Príncipe Don Carlos de Bourbon-Duas Sicílias o chamam de Duque de Castro, tendo, para ambos os pretendentes, seus títulos o mesmo sentido que o título de Rei.


Compreendida a tradição dos Chefes de Casas Imperiais e Reais ex-reinantes de sempre levarem um título, pode-se parecer que isso "afasta-se da tradição brasileira", porém não poderia ser mais errôneo, uma vez que a Princesa Dona Isabel, que tornou-se a Chefe da Casa Imperial do Brasil após a morte do Imperador Dom Pedro II, utilizava já o título de Condessa d'Eu, e assim assinava em todas as suas cartas e manifestos "Isabel, Condessa d'Eu".


Bilhete assinado pela Princesa Isabel, como "Isabel, Condessa d'Eu"


É claro que o título de Conde d'Eu era de seu marido, o Príncipe Dom Luiz Gastão d'Orléans, que, segundo a constituição Imperial teria o título de Imperador Consorte Dom Luiz I do Brasil, assim que Dona Isabel fosse Coroada Imperatriz Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil. Sendo este um título francês, mesmo com a renúncia dos Direitos Dinásticos pelo Príncipe Dom Pedro de Alcântara d'Orléans e Bragança, então Príncipe Imperial do Brasil, o tal Condado passaria a ele, por ser o filho mais velho, fato que só não ocorreu pela assinatura, em 1909 do "Pacto de Família" chamado de "Declaração de Bruxelas", em que se afirmava que os príncipes da Casa d'Orléans e Bragança não poderia exigir os títulos de apanágio da Casa d'Orléans. Todavia, solicitar não é "exigir"...


No mesmo Pacto escreveu-se expressamente no Art. 5º que: "O Conde d’Eu e seus filhos se comprometem igualmente em seu nome e nome de sua descendência a não contestar em nada ao ramo do Duque d’Alençon a posse do título de Duque de Némours."


Foi sem dúvida de importância para os Orléans mencionar expressamente o título de Duque de Némours, uma vez que o Conde d'Eu era o filho mais velho de Louis Charles Philippe Raphaël d'Orléans, Duque de Némours.


Todavia, como sabemos, o referido Duque d'Alençon, que era Ferdinand Philippe Marie d'Orléans, irmão mais novo do Conde d'Eu, teve apenas um filho homem, sendo este o Príncipe do Sangue Emanuel d'Oléans, que nunca reivindicou o título de Duque de Némours, sendo intitulado Duque de Vendôme. Este foi pai de Charles-Philippe, que sim fez valer seus direitos ao título de Duque de Némours, porém casou-se contrariando as regras dinásticas da Casa d'Orléans, e faleceu em 1970, sem ter descendência. Desta forma, cumpriu-se em 1970 o Art. 5º do Pacto de Bruxelas, e o título de Duque de Némours passou a caber ao ramo Dinástico da Casa Imperial do Brasil.


Mas porque o título de Duque de Némours passou a Ramo Dinástico, e não ao chamado Ramo "de Petrópolis"? Justamente porque o chefe do "ramo de Petrópolis" foi o agraciado pelo Pacto de Bruxelas com o título de Príncipe titular de Orléans-Bragança, e, segunda as memórias da Princesa Isabel d'Orléans-Bragança, era vontade de seu avô, o Conde d'Eu, que seu filho mais velho assumisse, após a sua morte, o título de Conde d'Eu, e criasse o ramo dos "Orléans-Eu", um ramo distinto da Casa de Orléans-Bragança. Todavia, quer fosse pelo previsto no Art. 5º do Pacto de Bruxelas, quer fosse por assim o determinar, o Conde d'Eu nada mencionava sobre o título de Duque de Némours, que era de seu pai. 


É claro que Dom Bertrand d'Orléans-Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, pode optar por qualquer título, já que é detentor de Fons Honorum, mesmo criando um título inteiramente novo, ou renovando o belo título de Duque de Santa Cruz, único título criado no Império para um parente da Casa Imperial, no caso, o cunhado de Dom Pedro I. Todavia, ao analisar-se plenamente o dito Pacto de Bruxelas, em seu Art. 5º, comprovamos que, mesmo que dele não tenham feito uso, tanto Dom Pedro Henrique, como Dom Luiz, como agora Dom Bertrand, foram sucessivamente todos Duques de Némours desde 1970, quando extinguiu-se o ramo do Duque d'Alençon. 


Por Sua Alteza Magnífica e Sereníssima
o Príncipe Don Andrea Gian Giacomo Teodoro Gonzaga Trivulzio-Galli
13º Duque de Mesolcina, 18º Príncipe de Mesolcina e Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico, Duque d'Alvito, Duque de Venosa, de Bojano e de Melfi.

Para falar com Sua Alteza Sereníssima o Príncipe e Duque de Mesolcina, envie e-mail para o Secretariado Privado do Príncipe, através do e-mail mesolcina.it@gmail.com 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

A Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Carmo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e Mesolcina / The Religious-Military and Hospital Order of Our Lady of Carmo and Saint Lazarus of Jerusalem, Boigny and Mesolcina

 Nesta terceira postagem que encerra, por hora, a trilogia sobre o Lazarismo, (se você não leu as matérias anteriores, recomendamos a primeira, bem como a segunda) iremos, após termos passado pela origem da Ordem Militar do Hospital de São Lázaro de Jerusalém, e após a sua extinção, a sua continuação pelas suas duas vertentes legítimas: A Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro, e a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro; bem como estudamos acerca da "irmandade" criada em 1910 (porém que apenas passou realmente a ter funcionamento após 1935) autodenominada "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", e de como esta dita "irmandade" não tem qualquer ligação com a Ordem Medieval de São Lázaro (que, como vimos, foi formalmente extinta em 13 de novembro de 1572, hoje iremos estudar acerca da única continuadora da também hoje extinta Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré: a Principesca Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina.


Como vimos, a Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém passou formalmente a existir em 16 de fevereiro de 1607, quando o Papa promulgou a Bula Pontificex Maximus autorizando o estabelecimento de uma nova Ordem, que um ano depois foi complementada com a Bula Militantium Ordinum Instituto, aprovando seus Estatutos e Regras. Em 14 de abril de 1608, Henri IV nomeou Nerestang como Grão-Mestre da nova Ordem, sendo este já Grão-Mestre de São Lázaro na França e logo depois emitiu uma Carta Patente, em 31 de outubro de 1608, em virtude da qual as duas Ordens foram unidas.


A Ordem existiu na França de modo pleno e independente de 1608 a 1824, quando, após a morte do Rei Louis XVIII, seu irmão, o Rei Carlos X, ordenou que a Chancelaria da Legião de Honra publicasse um documento oficial, pelo qual anunciava que não se realizavam no Reino da França nomeações para a Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém desde 1788, e, por desejo de Sua Majestade Cristianíssima, a Ordem deveria deixar de existir no Reino da França.


Brasão da Ordem no Principado de Mesolcina

Uma das características desta Ordem era a capacidade de seus Grão-Mestres tinham em estabelecer Comendadorias Hereditárias, que por vezes eram concedidas, e outras vezes eram vendidas a determinados Nobres, em sua maioria na França, mas por vezes fora dela, como em Mesolcina, onde o Rei Louis XIV criou uma Comendadoria Hereditária em 1693, quando nove Cavaleiros partiram com suas respectivas famílias da França para viverem como súditos do Príncipe de Mesolcina, época então, em que Sua Alteza Magnífica o Sereníssimo Príncipe Don Antonio VII de Mesolcina requisitou a Sua Majestade Cristianíssima a criação da Comendadoria Hereditária da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém em Mesolcina.


A Comendadoria de Mesolcina permaneceu em plena atividade durante a revolução francesa, uma vez que o Principado de Mesolcina, como Principado Soberano dentro do Sacro Império Romano-Germânico escapou à saga revolucionária (não escapando porém de Napoleão, anos depois), porém a Ordem permaneceu em plena existência em Mesolcina.


Cavaleiro da Ordem com o Hábito utilizado em Mesolcina


Quando Sua Majestade Cristianíssima o Rei Carlos X ordenou que a Ordem deixasse de existir nos Reinos da França e de Navarra, após a morte de Louis XVIII, em 1824, e quando em 1830 renuncia formalmente ao Patronato Régio da Ordem, é a extinção da Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré, esta seria assim para sempre extinta, e perderia qualquer vinculação Dinástica com a Casa Real da França quando, em 1924 completou-se 100 anos da Ordem Régia de sua extinção, sem que Suas Altezas Reais os Duques d'Anjou, Chefes da Casa Real da França, decidissem por das Seu Patrocínio Régio ao seu reagrupamento.


Porém como o ordenamento de Sua Majestade Cristianíssima apenas poderia valer em seus próprios Reinos e territórios, a Comendadoria Hereditária de Mesolcina não foi por ela atingida. Neste ato, Sua Alteza Magnífica o Príncipe Don Andrea II Trivulzio-Galli, Príncipe e Duque de Mesolcina dá seu Patrocínio Principesco para que a Comendadoria Hereditária tornasse uma Ordem de Cavalaria em direito próprio: é a criação da Principesca Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina, que continua a existir até nossos dias sendo assim, junto da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, o único receptáculo da Lazarismo Legítimo em nossos dias. 


A Ordem em Mesolcina seguiu a Casa Principesca mesmo após o fim do Principado de Mesolcina em 1918: quando Suas Altezas seguiram em exílio, primeiro para a Ilha da Madeira, junto de Suas Majestades Apostólicas, e depois no Brasil, a Ordem seguiu como mais uma das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Trivulzio-Galli di Mesolcina. No Brasil, onde a lepra ainda era um mal que acometia muitas pessoas, a Ordem pode auxiliar novamente aos leprosos.


Cruz da Ordem no Principado de Mesolcina


O patrocínio da Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina no Brasil foi reconhecido formalmente quando, nos anos 30 do século XX, após ser condecorado com a Grã-Cruz da Ordem, o então Presidente Getúlio Vargas ordenou que a mesma fosse inscrita na Heráldica Nacional, de modo que qualquer militar pudesse utilizar suas condecorações em seus uniformes e fardamentos sem necessidade de pedir autorização, e que tais condecorações contassem para o plano de carreira dos mesmos, leis que continuam em vigor até nossos dias. 


Entre os anos de 1942 a 1945, devido a II Guerra Mundial, o governo federal ordenou a suspensão de todas as atividades de todos os "grupos paramilitares, associações estrangeiras ou afins", o que, de fato, levou a paralisação das atividades da Ordem de Malta, da Ordem do Santo Sepulcro, bem como da Sacra Milícia e das demais Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Mesolcina, todas, com exceção da Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina cujos trabalhos caritativos em prol dos mais necessitados e dos leprosos eram considerados tão importantes, que a mesma recebeu a distinção de ser declarada de Utilidade Pública, primeiro no Estado da Guanabara, e depois no Estado de São Paulo. 


Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Boiny e Mesolcina continua a realizar seus trabalhos em prol da Sociedade, não apenas no Brasil, mas em todos os países onde existam Delegações das Ordens Dinásticas da Sereníssima Casa Principesca de Mesolcina.


Caso queiras ter mais informações sobre ela, entrar em contato pelo e-mail: ordinidinastici@gmail.com 


ATAVIS ET ARMIS!

terça-feira, 8 de março de 2022

A Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém (criação de 1910) / The Military and Hospitaller Order of Saint Lazarus of Jerusalem (created 1910)


 Fiéis Leitores do Corriere della Mesolcina, na última postagem tratamos acerca da continuação da medieval Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém nas Ordens dos Santos Maurício e Lázaro e na Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém; para ler a matéria anterior, clique aqui. Hoje trataremos acerca de uma criação bem mais moderna, que utiliza o nome da Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém, mesmo sem ter com ela qualquer veiculação histórica.


Como visto na matéria anterior, após a decisão do Rei Carlos X da França, em 1824, de descontinuar a Real Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré, a Comendadoria do Principado de Mesolcina da dita Ordem manteve-se, e com a renúncia, no ano de 1830, por parte do mesmo Rei, de dar sua proteção à Real Ordem francesa, a dita Comendadoria do Principado de Mesolcina assumiu o nome de Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, tendo por Grão-Mestre hereditário os Príncipes Soberanos de Mesolcina e depois os Chefes da Soberana Casa Principesca de Mesolcina, e esta foi a última continuadora historicamente incontestável da tradição francesa lazarista.


Todavia, em 1910, um grupo de beneméritos franceses decidiu "recriar" a Ordem de São Lázaro de Jerusalém, mesmo sem ter qualquer continuidade com a Real Militar-Religiosa e Hospitalar de Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, Belém e Nazaré ou sua continuadora, a Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, ou com a Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar dos Santos Maurício e Lázaro, as únicas continuadoras das tradições da Ordem de São Lázaro de Jerusalém.


Porém, entre esses beneméritos, estavam dois Cavaleiros da Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina: o Barão Yves de Constancin, Cavaleiro-Comendador da Categoria de Jure Sanguinis e o Cavaleiro Paul Watrin, Cavaleiro de Graça Magistral. Todavia, a participação destes dois Cavaleiros do Principado de Mesolcina, que foi por demais "valorizada" pelos historiadores modernos da criação de 1910, não poderia vincular a Ordem Principesca.


Este grupo de senhores franceses procurou ao Patriarca Greco-Melquita e lhe ofereceu a Proteção Espiritual de seu grupo, algo que o Patriarca Cirilo VIII aceitou imediatamente, esperando com isso obter auxílios e doações do Ocidente, algo que acabou nunca ocorrendo.  Este grupo de senhores não utilizou o nome de "ordem" em seus primeiros anos, adotando o nome de "União dos cavaleiros de São Lázaro", e, por influência dos referidos Cavaleiros de Mesolcina Barão Yves de Constancin e Paul Watrin,  ofereceram o "grão-magistério" desta União ao Príncipe Don Francesco VIII Trivulzio-Galli, então Príncipe Reinante e Soberano de Mesolcina, algo que foi recusado por Sua Alteza.


A "União francesa", como passou a ser chamada, caiu em certo esquecimento até o final da I Guerra Mundial. Em 1919 a "União dos cavaleiros" passou a auto intitular-se como "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", e passou a procurar por um príncipe de Sangue Capetiano que aceitasse seu Grão-Magistério. A procura levou décadas para encontrar alguém que o quisesse, porém em 1935 Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de La Torre, Duque de Sevilha e Príncipe do Sangue de França, aceita a nomeação. 



Porém mesmo com um Príncipe do Sangue Capetiano como Grão-Mestre, a dita "ordem" não havia sido criada por nenhum Príncipe possuidor de FONS HONORUM, de modo que não se tratava, como não se trata até hoje, de uma verdadeira Ordem de Cavalaria, mas sim apenas uma associação de pessoas de boa vontade, que realizam numerosos atos de caridade. 


Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de La Torre foi Grão-Mestre até 1952, quando foi sucedido por seu filho Don Francisco de Bourbon-Sevilha y de Bourbon-Sevilha, Duque de Sevilha, que foi Grão-Mestre até 1967. O Duque de Sevilha, diante da insistência do príncipe Charles-Philippe d'Orléans, renunciou ao posto de grão-mestre, sendo eleito Charles-Philippe d'Orléans. Este príncipe da Casa d'Orléans tornou a criação de 1910 da "Ordem de São Lázaro" uma Associação Internacional e ecumênica, podendo aceitar-se nela cristãos não-Católicos.


Diante das mudanças feitas pelo príncipe Charles-Philippe d'Orléans muitos dos antigos membros da agremiação a abandonaram e criou-se a primeira de numerosas divisões da "Ordem de São Lázaro": os Cavaleiros espanhóis elegeram para voltar ao posto de grão-mestre o Duque de Sevilha, já os franceses elegeram ao Duque de Brissac, criando assim duas "obediências" a de Malta, liderada pelo Duque de Sevilha, e a de Paris, liderada pelo Duque de Brissac.


Esta divisão em duas "obediências" fez com que, há partir de 1970, surgissem mais de uma dezenas de "obediências", afirmando cada uma ser a continuadora de criação de 1910: A "Obediência de Malta"; a "Obediência de Paris"; a "Obediência de Malta e Paris"; a "Obediência de Orléans"; a "Obediência de Jerusalém" o "Grão-Priorado de Carpathia", a "União dos Grandes Priores", a "Obediência de Nápoles", etc, cada uma delas respondendo a um "grão-mestre", que pode ou não utilizar este título.



Para complicar ainda mais as coisas todas estas "obediências" são subdivididas em numerosas representações, chamadas de "Grão-Priorados", "Comendadorias", "Bailiados", "Grão-Bailiados", etc. E o nível de divisão interna é tamanha que, em alguns países existem ao mesmo tempo um "Grão-Priorado" e um "Grão-Bailiado" que pertencem à mesma obediência, porém que são totalmente independentes um do outro, de modo que um cavaleiro do Grão-Priorado da Alemanha da Obediência de Malta-Paris não participa nem reconhece outro cavaleiro do Grão-Bailiado da Alemanha da mesma Obediência de Malta-Paris, e assim por diante.


E ainda há o problema de que vários grão-priorados ou grão-bailiados, como foi o caso do Brasil, onde simplesmente mudou-se de obediência numerosas vezes, isso ao critério apenas de agradar seus dirigentes: hora fazia-se parte da Obediência de Paris, hora da de Malta, e até mesmo da Obediência de Nápoles!


Uniformes da "Obediência de Malta-Paris"


Apesar de todas as confusões internas, muitos Nobres e membros da Realeza aceitaram os títulos de alguma destas obediências. Sua Alteza Imperial e Real o Arquiduque Otto de Habsburgo, Duque de Lorena e Chefe da Casa Imperial da Áustria e Real da Hungria aceitou ser Grão-Colar da Ordem, da mesma forma que Sua Majestade o Rei dos Búlgaros, e eu mesmo, Príncipe de Mesolcina e então herdeiro da Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina aceitei ser Cavaleiro da Grã-Cruz de Justiça da mesma (o mais alto posto concedido dentro da Categoria de Nobreza). Entretanto, mesmo com todas estas Cabeças Coroadas aceitando serem membros de algumas destas obediências da criação de 1910, resta a pergunta: porque nenhuma Casa Soberana a colocou abaixo da Sua Proteção, lhe concedendo a legitimidade do Fons Honorum?


Creio eu que a resposta seja simples: todos nós, da Realeza ou da Alta Nobreza que a aceitamos o fizemos pensando em auxiliar as numerosas obras sociais realizadas por esta irmandade, não por a considerarmos como uma Ordem de Cavalaria que seria hoje "representante" da Ordem Religiosa-Militar de São Lázaro de Jerusalém. Neste sentido, numerosas publicações antigas, neste mesmo site, onde enalteço às obras caritativas da criação de 1910 da Ordem de São Lázaro. Devemos fazer propaganda das boas obras realizadas em favor dos mais necessitados! Porém não quer dizer que compactuemos com falsas histórias que tentam criar, para afirmar que seria esta tão recente criação a "continuadora" de uma Ordem Medieval abolida por Bula Papal em 1572 (com a qual se criou a Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, esta sim, continuadora da Ordem Medieval de São Lázaro de Jerusalém para a Santa Sé e o Direito Canônico)...


Então, fiel leitor, caso você seja Cavaleiro ou Dama da "Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém", não importa de que "obediência" for, saibas que ela foi criada em 1910, e não é "herdeira" de nenhuma Ordem de Cavalaria anterior a isso, pois a herança da Ordem Cruzada de São Lázaro de Jerusalém encontra-se hoje apenas na Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, da Casa Principesca de Trivulzio-Galli e na Real Ordem Religiosa-Militar e Hospitalar dos Santos Maurício e Lázaro, da Casa Real de Savoia. 


Cruzes das Ordens de N.S. do Carmo e de São Lázaro e dos Santos Maurício e Lázaro, as únicas continuadoras históricas da medieval (e extinta) Ordem de São Lázaro de Jerusalém


Contudo, continue colaborando com as obras de caridade da sua "obediência", pois fazer o bem aos mais necessitados é hoje uma grande necessidade à humanidade. 


OBS: Eu não duvidaria que, no futuro, algumas das ditas "obediências" de 1910 tentem adotar o nome de "Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém", nome este que hoje apenas cabe à Principesca Ordem Militar-Religiosa e Hospitalar de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de São Lázaro de Jerusalém, de Boigny e de Mesolcina, todavia, isto não irá dar maior legitimidade à uma criação feita em 1910...